Tipos de Parafilia
Sexo é um dos assuntos mais debatidos e aclamados do mundo em toda a história da humanidade – não há uma produção artística ou manifestação da alma humana que não use o comportamento afetivo-sexual para passar sua mensagem. O sexo está presente em todas as ramificações do comportamento humano, sendo investigado e analisado pelas mais diversas abordagens da ciência – da psicologia ao direito, da medicina ao entretenimento.
Isso acontece porque o sexo é a mais primitiva e instintiva forma de expressão e socialização das espécies, não conseguindo ser superada por nenhuma outra mesmo com os milhões de anos de evolução. Aqui mesmo no blog já debatemos amplamente como o sexo é importante para a saúde física, a saúde mental, a saúde afetiva e até mesmo para a saúde social dos indivíduos.
É através do sexo que conseguimos nos comunicar, expressar e demonstrar nossa essência mais profunda, é um momento visceral, sem excesso de racionalização e pudores – momento em que nos doamos ao outro de maneira aberta e sincera. Por isso mesmo, através do sexo podemos também perceber sinais e sintomas de que há algo errado em nós ou no parceire.
Parafilias
No texto sobre Fetiche e Saúde falamos quando um simples gosto incomum ou inusitado no sexo pode se tornar uma parafilia – situação em que os gatilhos e padrões sexuais geram sofrimento à pessoa ou a terceiros.
Para além dos prejuízos instantâneos durante a prática sexual, que podem implicar em abusos e excessos físicos e psicológicos, as parafilias podem afetar também a intimidade afetiva, a capacidade de reprocidade emocional e outros fatores da psique humana a depender do quadro e gravidade do transtorno.
Na maioria das culturas, os transtornos parafílicos acometem em maior proporção os homens, apesar de ainda não ter se chegado à causa dessa tendência. Entre os processos que geralmente estão envolvidos no desenvolvimento de uma parafilia estão:
- ansiedade e/ou traumas emocionais;
- exposição precoce a experiências de elevada carga sexual;
- padrão de excitação atrelado a simbologias e condicionamentos (geralmente através de objetos).
A maioria das parafilias são raras e geralmente a pessoa acometida apresenta mais de uma manifestação parafílica. Há casos que se tornam ainda mais complexos, sendo percebidos também transtornos de personalidade (padrões de comportamento antissocial, narcisista, etc).
Por isso, é importante prestar atenção quando notarmos comportamentos, desejos ou pedidos inusitados na hora do sexo ou até mesmo na fase de excitação. Propor novidades no sexo não é ruim, pelo contrário – quando o parceire traz ideias e propostas irreverentes é porque o interesse ainda está em alta e há o desejo de tornar a relação – seja ela afetiva ou puramente sexual – ainda mais interessante, mas quando a novidade vira padrão obrigatório ou obssessivo (quando sem ela, o indivíduo não consegue nem mesmo chegar à excitação) surge um sinal de perigo!
É claro que o diagnóstico depende de um profissional qualificado e especializado para analisar o quadro, mas traremos aqui algumas das parafilias mais frequentes para que você possa conhecê-las e reconhecê-las caso elas se apresentem a você.
Tipos de Parafilias
É sempre bom reforçar que tais manifestações esporádicas são consideradas normais e/ou saudáveis, as parafilias só configuram um transtorno quando ocorrem de maneira recorrente e duradoura (o parâmetro aqui é que permaneça por um período mínimo de 6 meses) e tenha efeitos negativos na vida das pessoas envolvidas.
Vejamos algumas das mais frequentes e mais conhecidas parafilias:
- EXIBICIONISMO
Das duas, uma: exibir genitais para alguém de maneira desavisada ou o desejo de ser observado durante a atividade sexual.
Para caracterizar um quadro de transtorno, mais do que o tesão em experimentar essas situações, a pessoa as força ou as realiza com alguém que não consentiu com elas, causando desconforto, agressões e invasão de privacidade, podendo sofrer as consequências do ato.
Curiosidade: Segundo o Manual MSD, cerca de 30% dos molestadores sexuais presos têm característica exibicionista e registram a maior taxa de reincidência entre os molestadores sexuais (20 a 50% são presos novamente pelo mesmo motivo), ou seja, um quadro com difícil restauração de controle.
- VOYEURISMO
Com certeza, uma das mais clássicas! Todo mundo já ouviu falar ou viu algum filme que aborde o voyeurismo – a excitação ao observar pessoas nuas, despindo-se ou em atividade sexual.
É claro que o simples desejo e curiosidade em observar tais cenas é natural e bastante comum, o voyeurismo caracteriza um transtorno parafílico apenas quando esse desejo é forte o suficiente para fazer com que a pessoa forçe situações, coloque-se em risco ou cause prejuízos a si mesma ou aos outros, podendo comprometer seus compromissos pessoais e responsabilidades cotidianas para realizar a prática voyeurista – além de fazê-lo de forma crônica e compulsiva.
Outra característica importante para configurar o transtorno é a observação sem a permissão ou a ciência da(s) pessoa(s) observada(s).
O voyeurismo em sua forma parafílica atinge a cerca de 12% dos homens e 4% das mulheres.
- SADOMASOQUISMO
O famoso e polêmico tabu! Sim, já falamos algumas vezes como as tendências sadomasoquistas podem ser perfeitamente absorvidas pelo sexo sem que isso cause qualquer tipo de incômodo ou desagrado aos envolvidos – pelo contrário, o fetiche sadomasoquista pode ser uma delícia para quem o pratica e é amplamente disseminado na cultura BDSM.
Mas, como sempre abordamos nos textos do Blog do Tarot, o consenso é palavra de ordem para que ele se mantenha dentro de um espectro saudável e prazeroso. Os praticantes costumam usar palavras de segurança para definir e manifestar seus limites de prazer e dor que devem ser respeitados imediata e continuamente.
Quando as práticas sadomasoquistas são realizadas sem o consentimento da(s) pessoa(s) ou ultrapassam os limites, provocando sofrimento significativo ou causando prejuízos funcionais à vida ou ao corpo do(s) envolvido(s), ele pode se tornar um transtorno parafílico e deve ser devidamente diagnosticado e tratado por especialistas.
Casos Sensíveis de Parafilia
Há ainda 2 tipos clássicos de Parafilias que envolvem condições especiais: a Pedofilia e o Travestismo. O primeiro, dispensa comentários por se tratar de crime previsto e amplamente sabido. O segundo aborda questões de gênero, tema que ainda suscita longos e calorosos debates sociais, mas que é visto por muitos estudiosos e especialistas como candidato a exclusão da Classificação Internacional de Transtornos (CIT).
Apesar de estarem em pontos completamente opostos no espectro de saúde, ambas as parafilias ainda geram polêmica. O travestismo é amplamente disseminado na sociedade há muito tempo e a extensa maioria dos adeptos não se enquadra em quadros de transtorno pelo fato de a prática não apresentar nenhum tipo de prejuízo funcional ou sofrimento ao praticante. Hoje em dia, ela é considerada muito mais como um estilo pessoal, uma manifestação de personalidade e uma forma de expressão, sendo muito bem aceita por boa parte da sociedade.
Já a pedofilia é uma prática criminosa que causa traumas irreperáveis em crianças e adolescentes e é uma das causas de muitas das doenças psicológicas que abalam a saúde de maneira permanente de milhões de vítimas em todo o mundo e têm relação também com a saúde mental dos pedófilos, não apenas das vítimas. Muitos pedófilos também apresentam transtorno antissocial, desenvolvem quadros de abusos e dependência de substâncias químicas e depressão. além de comorbidades como TDAH (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno de ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Geralmente também vem acompanhado de histórico pessoal de abusos sexuais e disfunção familiar.
Contextos de pedofilia devem ser tratados com muita atenção e cuidado, haja vista a complexidade que envolvem os casos e a gravidade de suas consequências.
Atenção à Saúde Sexual
Lembramos que esse texto não é um manual para diagnóstico nem orientações de medidas preventivas ou de como lidar com os transtornos citados. Transtornos parafílicos são tema de saúde e devem ser tratados sempre por especialistas capacitados para a função. O texto objetiva apenas a disseminação de conhecimento e informação para que você possa compreender melhor o universo do sexo e estar atento para possíveis situações de alerta.
A sexualidade saudável NUNCA inflige dor ou sofrimento aos envolvidos, é sempre uma prática prazerosa, leve e positiva. Estejamos atentos e busquemos sempre viver mais e melhor, seja nas relações, no sexo ou na vida!
Imagem Destacada por Maria Vlasova via Unsplash