Sexualidade e Pandemia
O que não falta na internet são análises sobre as mudanças causadas pela pandemia de coronavírus. Já sabemos e debatemos como a pausa forçada que o mundo deu abalou nossas finanças, nossos estudos, nossos trabalhos, nossa saúde física e mental. Mas e a sexualidade humana? Que efeitos ela sofre?
É claro que o número de relações sexuais sofreram uma queda e tanto mundo afora, mas isso não significa que os efeitos sobre a sexualidade seguiram a mesma regra. Afinal, já ficou bem claro como o sexo e a sexualidade são coisas muito diferentes, não é? Enquanto o sexo se resume em relações e interações sexuais que temos com alguém, a sexualidade envolve uma série de fatores comportamentais, emocionais e relacionais – esses sim, aspectos que tiveram uma mudança grande de padrão, mas, em muitos casos, positiva.
Entendamos como isso se deu e como você pode tirar proveito dessas mudanças também!
Sexo e Sexualidade
Bom, que todo o contexto da pandemia e do isolamento social têm impacto direto na libido humana não há dúvidas. O estresse, ansiedade, insegurança e apreensão gerados são fatores que afetam diretamente nossa capacidade de canalizar a energia e tensão sexual, sem contar os efeitos daqueles que foram infectados pelo vírus ou viram parentes e amigos próximos passarem pela doença.
Não à toa, em pesquisa realizada pelo DataFolha com 1.800 homens brasileiros foi observada piora na satisfação com a vida sexual em pelo menos 30% dos solteiros. Além disso, já citamos em outros textos como os jovens antes da pandemia já vinham olhando o sexo, principalmente o sexo casual, com outros olhos e adotando uma postura mais crítica para topar a interação íntima.
Você pode ler mais sobre essa dinâmica em:
Como consequência, aliando tal cenário ao contexto de pandemia, a menor incidência de sexo mundo afora era um evento completamente esperado. Mas, surpreendentemente, essa e outras pesquisas apontam também uma melhora na qualidade da vida sexual, principalmente entre as pessoas com relacionamentos estáveis.
Parece não fazer sentido? Pois a sexóloga Eliany Mariussi sugere uma explicação bastante cabível: com a tendência – natural ou forçada – a termos menos acesso ao sexo, passamos a buscar melhorar nossa relação com ele, passando a dar mais atenção a quesitos que antes passavam despercebidos ou considerados de pouca importância, como a fantasia, imaginação, interações sexuais indiretas, exercitar a sexualidade à distância com o(s) parceire(s), encarando a necessidade de reinventarmos a maneira como experienciamos o prazer.
Essa necessidade pouco encarada até então trouxe outra grande oportunidade de melhora: o autoconhecimento. Para conseguir dar conta dessa nova dinâmica relacional que estamos encarando, percebemos a necessidade de entender nossos próprios limites, redescobrir nossos gostos, aprofundar a relação conosco mesmo para conseguir propiciar e experienciar uma relação positiva e agradável com o outro.
Daí nasce um novo estágio da relação do ser humano com sua sexualidade, que determina que a relação entre profundidade, abrangência e frequência não é direta, mas subjetiva.
Sexo e Relacionamentos
Essa mudança trouxe efeitos também para os casais, a depender do contexto de cada par. O aprofundamento da relação com o sexo e o maior autoconhecimento trouxeram a muitos casais uma melhora na relação, facilitando pontos até então problemáticos e estimulando uma maior capacidade de diálogo e resolução de problemas. Cenário que claramente traz um ganho de intimidade e maturidade para a relação.
Por outro lado, casais que já viviam relacionamentos estáveis intensificaram e muito a convivência, seja pelo fato de já morarem juntos ou pela impossibilidade de comparecer a eventos sociais que não os dentro de casa ou com um reduzido círculo social. Todos sabemos os prejuízos que a monotonia pode acarretar para os relacionamentos afetivos e, mesmo com ganhos de diálogo, criatividade, inovação e conexão entre os pombinhos, não é fácil superar os desafios do isolamento social.
Outro ponto crucial, principalmente para os relacionamentos estáveis, é a saúde mental/emocional. Entre os efeitos da pandemia estiveram a insegurança e instabilidade profissional, o mercado enfrentou desafios diversos e um alto número de pessoas teve que encarar mudanças drásticas em suas carreiras.
A identidade profissional é parte fundamental do equilíbrio mental na sociedade contemporânea, ainda mais considerando as mudanças recentes em questões de gênero e equidade social que estivemos experienciando nas últimas décadas. Principalmente para as mulheres, essa base de identidade ainda estava em solidificação; principalmente para os homens, essa base estava encarando um processo de redefinição. Em ambos os casos, os novos cenários inesperados podem ter abalado muitas certezas e gerado instabilidade, que, definitivamente, é levada também para a vida afetivo-sexual dos casais e pode ter representado um agravante na sexualidade dos casais.
A mesma dinâmica impõe consequências também aos solteiros, que, em meio a todas as instabilidade emocionais que tal contexto traz, estão ainda tentando mostrar quem são a pessoas que acabaram de conhecer (e muitas vezes conheceram apenas pela internet, tornando tudo ainda mais distante e impessoal) – sem nem mesmo ter certeza de quem são. Os resultados dessa tentativa você já pode imaginar.
Sexualidade na Pandemia
Em resumo, as consequências para a sexualidade foram uma maior exigência de maturidade, autoconhecimento e autorresponsabilidade. Muitos e muitos desafios para se conquistar tal patamar, mas que, sem sombra de dúvidas, trarão relacionamentos muito mais interessantes, profundos e saudáveis.
Sabemos bem que para colher bons frutos, precisamos de um plantio cuidadoso, paciente e com muita disposição. Com a sexualidade não tem sido diferente. Apesar dos pesares, das dores e do irremediável que a pandemia nos trouxe, que possamos construir realidades melhores de se viver.
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