Relacionamento Aberto
A sociedade sofreu grandes mudanças ao longo do último século. São conquistas e avanços variados que proporcionam às pessoas mais liberdade, autonomia e flexibilidade de escolhas. Já comentamos mais profundamente algumas delas e apontamos como essas mudanças reverberam também na visão das pessoas sobre o sexo, como a normalização social das visitas ao motel, como a tecnologia pode trazer inovações no sexo, a valorização da Saúde Sexual, o desenvolvimento da Sexologia, o reconhecimento do Sexo na 3ª Idade e a queda de muitos tabus da sexualidade.
Em decorrência de tantas mudanças, surgem também novos estilos de vida e formas de se relacionar com as pessoas ao nosso redor, sexual e afetivamente. Uma das tendências mais fortes nesse contexto são os Relacionamentos Abertos, que a cada ano ganham mais adeptos e admiradores.
Para muitos, esse formato de relacionamento é muito distante do que estamos acostumados a viver e buscar nas relações. Para outros, faz todo o sentido e é uma forma de relação muito mais natural que os relacionamentos estritamente monogâmicos ou tradicionais.
Como toda novidade, o tema provoca a curiosidade das pessoas e inúmeros questionamentos. Tentaremos responder alguns deles na sequência, como O que são Relacionamentos Abertos e Como funcionam os Relacionamentos Abertos.
O que são Relacionamentos Abertos
O crescente interesse e atração pelo tema é bastante compreensível. Todos sabemos como relacionamentos afetivos são complicados, exigindo uma base de muita confiança, parceria e conquistas diárias. Atributos esses difíceis de se conseguir e ainda mais difíceis de manter a longo prazo.
Em uma sociedade cada vez mais líquida, mutável e flexível, relacionamentos longos e duradouros são cada vez mais raros e a explicação é bastante óbvia. A instituição Casamento e o padrão monogâmico das relações muitas vezes já não condiz com a forma e estilo de vida atuais, deixando muitas brechas para que as pessoas questionem se relações longas e estáveis ainda são possíveis nos padrões que passamos a viver nas últimas décadas.
Até o séc XVIII, Casamentos eram simples contratos sociais, motivados por interesses econômicos e de classes. No século XIX o romantismo estava em alta e o amor entrou em cena. A busca do grande amor e os desafios vencidos para driblar as normas sociais e garantir casamentos baseados em Amor e Paixão foram as grandes tônicas que consagraram alguns dos heróis do século XX.
O século XXI apenas intensificou a questão, indo além da presença do Amor nos relacionamentos e incluindo a Liberdade como fundamental para a saudabilidade de uma relação afetiva. Amor e Liberdade se torna, então, o lema maior dos Relacionamentos Abertos.
Nesse contexto, o que é, afinal, um relacionamento aberto?!
Relacionamento Aberto
Uma das definições mais amplas e bem aceitas é que um Relacionamento Aberto é uma forma de parceria física ou romântica que não seja pautada pela exclusividade, ou seja, uma relação romântica sem a imposição da monogamia convencional.
Em larga medida, relacionamento aberto é uma generalização do conceito de relacionamentos não monogâmicos. Uma relação aberta é uma relação que não está fechada na ideia da monogamia e aceita ser pautada por outras perspectivas, estando aberta a outras possibilidades.
Uma relação aberta é muitas coisas, mas não é festa, como muitos pensam.
Um Relacionamento Aberto, assim como todo tipo de relação pessoal, é coisa séria e se apoia em regras e acordos para funcionar, como qualquer relacionamento. A diferença é que essas regras são definidas através do diálogo entre o casal e flexibilizadas de acordo com os desejos e necessidades específicas de cada par e não sob um modelo regulatório pronto e genérico como acontece nas relações convencionais, onde todo e qualquer casal vive o relacionamento nos mesmos moldes de monogamia e outras convenções sem refletir se tais regras realmente satisfazem suas necessidades e desejos.
Por exemplo, dentro dos Relacionamentos Abertos há casais que vêem com naturalidade a relação sexual pontual e não recorrente com outros parceiros, há casais que entendem que o flerte e carícias são inofensivos, mas a transa em si é prejudicial, há casais que entendem a relação sexual com terceiros como algo natural, parte do relacionamento, mas consideram a relação afetiva com outras pessoas impossível de conciliar. O ponto principal é que o casal está totalmente aberto para manifestar como percebe e sente as diferentes possibilidades dentro de um relacionamento e chegar a um acordo sobre o que pode e o que não pode dentro de sua relação.
Por isso, existem muitos diferentes tipos de Relacionamento Aberto, entre eles:
- Relações com múltiplos parceiros, quando ambos mantém outras relações, sejam afetivas ou sexuais.
- Relacionamentos híbridos, quando um parceiro é monogâmico e o outro não (estando todos cientes e em acordo).
- Relacionamento livre, quando são mantidas mais de uma relação sem qualquer tipo de hierarquia entre elas.
- Swinging, quando há trocas ocasionais de casais com fins estritamente sexuais.
- Além de outros possíveis formatos.
Em tese, o foco não está no formato em si das relações, mas sim em garantir que elas ofereçam o que todo relacionamento deveria oferecer: liberdade e honestidade entre o casal.
O objetivo de manter as relações abertas é contemplar as necessidades individuais específicas e conciliá-las com as necessidades da própria relação. Assim como, estar aberto a possíveis ajustes e mudanças ao longo do caminho, caso os sentimentos e necessidades mudem conforme a relação avança.
Relacionamento Aberto Na Prática
Se na teoria esse novo modelo traz premissas que deveriam estar em todo relacionamento, na prática ele não é para todos. Por quê?
Assim como os relacionamentos abertos oferecem liberdade e honestidade dentro das relações, eles exigem flexibilidade e autocontrole. A razão é lógica, manter a honestidade e sinceridade com o outro exige autoconhecimento e maturidade para lidar com seus próprios sentimentos. A liberdade também tem duas faces, o espaço que ela traz pode originar situações positivas e melhorar a relação ou distanciar o casal e deixá-los tão independentes que eles não vejam mais a necessidade de manter o elo.
Não existe fórmula mágica e os efeitos de cada escolha são diferentes em cada caso. Lidar com isso exige certa solidez psicológica e emocional, justamente por ser algo relativamente recente (o conceito de relacionamento aberto remonta apenas aos anos 70), que gera ainda muita confusão e preconceito de terceiros, além de exigir uma alta capacidade de resolução de problemas, que, sem dúvidas, surgirão.
É quase um formato trial em que toda a sociedade está de olho. Claramente, essa situação não é para qualquer um. É preciso dispor de um estado emocional forte e bem estruturado, amparado por atributos como autoconhecimento, autocontrole, autoconfiança e uma visão clara de quais são seus objetivos pessoais com o relacionamento amoroso.
Isso não significa que pessoas que vivem relacionamentos abertos são mais evoluídas ou desenvolvidas emocionalmente, mas que eles estão dispostos a encarar e vivenciar todas as oscilações emocionais e instabilidades que podem vir à tona nesse tipo de relação. Por isso, o relacionamento aberto não é ideal para todo mundo, mas é uma das muitas possibilidades que podem ser consideradas atualmente.
Abrindo a Relação
Muitos buscam conhecer mais sobre Relacionamento Aberto quando estão com problemas em suas relações já existentes, seja namoros ou casamentos que estão passando por momentos turbulentos.
Justamente pelas muitas emoções que esse formato suscita, “abrir a relação” na tentativa de salvá-la costuma ser ineficiente. O relacionamento aberto não é uma ‘última alternativa’ e sim a primeira alternativa, se o casal não estiver muito conectado e alinhado em seus objetivos e desejos dentro da relação, abrir a intimidade a outras pessoas é muito mais um risco que uma ‘solução em potencial’, pois trará à tona todas as emoções mais profundas e íntimas de cada um, o que pode configurar novos problemas e ainda menos soluções.
Lidar bem com ciúme, insegurança, desconfiança, carência e outros sentimentos que trazem instabilidade emocional para o indivíduo e para a relação são premissas e não consequências do relacionamento aberto.
Manter relações abertas não significa que tais sentimentos não existam e não surgirão entre o casal, mas sim que o casal irá lidar com eles de forma equilibrada e saudável. Portanto, se você não se encaixa nesse perfil, dificilmente um relacionamento aberto irá ser a solução para seus problemas.
Outra dica para os que têm curiosidade e pensam em se aventurar por esses mares é testar. Mudar radicalmente o formato de suas relações afetivas do dia para noite provavelmente não trará bons resultados e tem altas chances de amplificar traumas e medos. O ideal é fazer pequenas mudanças gradativamente até chegar no modelo de relação que seja ideal para você e para seu parceiro.
Teste seus limites!
A principal proposta do conceito de Relacionamento Aberto é retirar as obrigações e a ideia de propriedade. A característica mais marcante da relação deve ser a Liberdade, quando essa liberdade se transforma em peso é sinal de que é preciso repensar.
Abrir a relação é uma alternativa e não uma obrigação. O conceito todo surgiu com base na percepção moderna de que cada ser é um indivíduo próprio e completo em si mesmo, por isso, cada indivíduo tem desejos, necessidades e perspectivas únicas sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. Novas formas de nos relacionarmos com o mundo a nossa volta são uma tentativa de viver de forma mais leve, plena e feliz.
Se você tem qualquer tipo de insatisfação em seus relacionamentos, não necessariamente você deseja um relacionamento aberto, mas sim quer outra forma de se relacionar que só você pode descobrir qual é e só descobrirá quando tentar. Quem sabe você não crie seu próprio formato de relacionamento que se propagará pela sociedade no futuro?!
Quando tudo isso estiver resolvido em sua mente e em seu coração, o Motel Tarot estará te esperando para desfrutar a vida da maneira que lhe couber!
Texto originalmente postado em 28/11/2019 e atualizado em 11/02/2021.