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Tabus da Sexualidade

O sexo sempre foi rodeado de muitos tabus em todas as sociedades e períodos históricos que já vivemos. Muitos deles são relacionados à relação da mulher com o sexo.

Prazer feminino sempre foi um tabu! E dos grandes. Até hoje, mesmo com todo avanço e liberdade sexual que as mulheres ganharam nas últimas décadas, a relação de sexo e prazer ainda não é vista com naturalidade para as mulheres – e até mesmo pelas mulheres.

Basta observar a diferença de reação entre homens e mulheres quando os assuntos sexo, masturbação, sex shop ou sexo oral vêm à tona. Geralmente, homens fazem piadas e têm o riso frouxo enquanto mulheres ficam acanhadas e com reações contidas, isso quando ficam à vontade para seguir interagindo.

Essa repressão psicológica e social é um dos vários fatores atribuídos à dificuldade que muitas mulheres têm para chegar ao orgasmo, o queridinho do momento.

A dificuldade em atingir o clímax vem se tornando assunto recorrente com a maior abertura social para o tema e é comprovadamente um problema da sexualidade feminina, estando ligada até a alguns distúrbios sexuais como:

  • Baixa Libido – Falta de desejo sexual;
  • Anorgasmia – Incapacidade em obter orgasmo;
  • Dispareunia – Dor durante a relação sexual;
  • Vaginismo – Dor ou dificuldade à penetração.

 

Relação Biológica-Emocional do Sexo

Diversos estudos apontam a falta de desejo ou baixa libido como o distúrbio mais comum, atingindo entre 15% e 35% das mulheres. Suas causas estão vinculadas a alterações hormonais e estresse. A baixa libido tem também relação com a Dispareunia, sendo uma das causas para a dor durante o ato sexual, assim como alterações hormonais e disfunções como corrimento e infecções também podem ocasionar dor durante o sexo.

O vaginismo é causado diretamente pelo estado emocional, formando um ciclo de ansiedade, tensão e dor. São situações em que a mulher não está completamente à vontade com o parceire e/ou desconfortável com a relação sexual em si, causando uma contração involuntária dos músculos da região da vagina, que dificulta ou impossibilita a penetração, deixando-a ainda mais insegura e potencializando o ciclo de tensão. Nesses casos, não se deve forçar a penetração até orientação médica para tratamentos.

A anorgasmia também tem influências psicológicas e é uma consequência direta da visão fantasiosa e irreal do sexo pela sociedade. Aquela ideia de sexo selvagem, tesão inabalável e soberania do ato sexual (que pode ser visto em grande parte das produções cinematográficas – pornográficas ou não) acaba por gerar uma imagem distorcida da vida sexual e afetar a capacidade de desfrutar a sexualidade plenamente.

Além das questões emocionais, essas disfunções têm a influência de fatores biológicos e fisiológicos, como infecções, problemas hormonais, alimentação e até estilo de vida.

Além destas, há ainda o Desejo Sexual Hipoativo (DSH) e o Transtorno de Excitação (Frigidez) que restringem o desejo sexual e são fortemente influenciados por histórico sexual problemático e situações de estresse emocional. Ambas são tratáveis por meios médicos e psicológicos.

Como podemos ver, alguns dos distúrbios mais comuns na relação feminina com o sexo têm algum fator emocional relacionado. Não é possível cravar que tais fatores emocionais sejam decorrentes dos tabus sexuais ainda tão presentes na sociedade, mas é sim possível afirmar que o acesso mais amplo a informações de qualidade sobre a sexualidade ajudaria muito na conquista de uma vida sexual saudável e prazerosa – não só para as mulheres, diretamente afetadas pelos tabus, mas também aos homens, que sofrem pressões sociais para performar comportamentos não naturais na hora do sexo e acabam tendo expectativas também fora da realidade.

 

Mulher nua em posição fetal e olhar cabisbaixo.

 

Tabus da Sexualidade

As condições relatadas são problemas de saúde que afetam diretamente a qualidade de vida das pacientes acometidas e que têm tratamentos adequados, mas geralmente muito pouco procurados.

Toda a naturalização da falta de desejo sexual entre as mulheres e classificação do prazer sexual como característico do gênero masculino faz com que, ao sentir os sintomas, as mulheres entendam que são condições normais, que o sexo não é algo prazeroso ou que simplesmente não têm interesse no ato sexual – o que está muito longe de ser verdade.

Para as mulheres que ficam incomodadas com a falta de prazer ou com as dores durante a relação e desejam mudar essa condição, vem uma nova repressão oriunda dos tabus sociais: manifestar o descontentamento e a vontade natural de sentir prazer no sexo causa um estranhamento e um desconforto em muitas rodas sociais, que julgam, condenam e reforçam a ideia de que mulher não deveria esperar se divertir com a atividade sexual, que o sexo é mera obrigação da vida adulta e não diversão.

O medo das críticas e dos julgamentos que impedem ainda muitas mulheres de buscar tratamento não param nas rodas de convivência, mas chegam também até a relação médico-paciente. O ambiente que deveria ser uma zona de segurança e acolhimento, muitas vezes, se transforma em outro reduto de julgamento. Quantas mulheres já não ficaram em dúvida sobre alguma pergunta que gostariam de fazer no consultório médico e desistiram por medo da reação do médico? E não pense que essa insegurança passa se a médica for uma mulher. O direito da mulher em buscar qualquer coisa além da saúde no sexo é ainda extramamente frágil e não inspira confiança em boa parte dos ambientes da sociedade, inclusive nos consultórios médicos.

Esse desconforto, por mais que seja mais evidente nas mulheres, afeta também aos homens. Entre eles, as principais queixas giram em torno da Disfunção Erétil e da Ejaculação Precoce e também estão atreladas à imagem fantasiosa do sexo, que, no caso dos homens, costuma impor que o papel masculino no sexo seja ligado a um desejo infinito e quase incontrolável e performance sobre-humana.

Tais condições são bastante comuns e também são tratáveis com medidas simples como mudanças de hábitos de vida e acompanhamento psicológico, afinal, alguns dos fatores para o desenvolvimento de tais disfunções também são emocionais, como estresse, ansiedade e problemas de autoestima.

O ambiente de tabus que permeia a sexualidade humana é diretamente responsável pela existência e persistência de tais condições, já que considerável parte delas têm tratamentos relativamente simples e não são solucionadas por puro medo e vergonha de não se encaixarem no grupo dos sexualmente saudáveis e garanhões.

A distorção do sexo em nossa sociedade faz com que Fazer Sexo seja uma obrigação, mas Falar de Sexo, uma proibição.

Aí vem a pergunta: Como podemos fazer sexo com qualidade e saúde se não podemos compreender como ele funciona?!

Ilustração com uma boca em sinal de silêncio.

 

 

Educação Sexual: Abaixo aos tabus!

A educação sexual que recebemos de nossos pais raramente é satisfatória. A conversa sobre sexo em casa costuma ser rasa e superficial, limitando-se a conselhos como ‘use camisinha’ e ‘pratique sexo responsável’. A abordagem sobre sexo no ambiente escolar também não vai muito além, com o adendo de ensinar biologicamente como o sexo funciona e quais as possíveis consequências de relações desprotegidas.

A própria comunidade médica tem dificuldades em abordar as questões sexuais dentro do consultório, o estudo Abordagem das disfunções sexuais femininas indica que menos de 10% dos médicos têm a iniciativa de questionar a paciente sobre queixas sexuais. Muito dessa postura se deve ao medo de soar como invasão de privacidade ou assédio, já que raras são as pacientes (e mesmo os médicos) que tratam as questões sexuais com naturalidade.

Devemos adivinhar quais as melhores formas de higienização da região íntima? Qual o aspecto e aparência de genitais saudáveis? Qual a aparência e coloração das mucosas? É normal ter escapes líquidos? Manchas e odores são indícios de risco? É normal sentir dor ou desconforto na região?

Como identificar sintomas de disfunções e doenças se não conhecemos de fato a normalidade da região genital?

Como, então, praticar sexo saudável quando não temos nenhuma orientação sobre nossa própria sexualidade?

Já pensou no absurdo que é vivermos na década de 2020 e ainda ter que lidar diariamente com doenças que trazem frustração, dor física e emocional e prejudicam sua saúde apenas por medo e vergonha de conversar com o médico?!

Já pensou como é cobrar de si mesmo um determinado comportamento que não se consegue atingir e/ou portar uma disfunção sem nem mesmo saber disso?

Já pensou que essa insatisfação consigo mesmo pode gerar dificuldades na sua relação com o parceire? Que questões pontuais podem ser facilmente resolvidas através de diálogo e busca por ajuda profissional?

 

Por uma sexualidade saudável

Esse texto é um incentivo a você, homem ou mulher, a refletir sobre sua sexualidade. Um convite a ampliar a abertura e liberdade dentro de sua relação com o parceire, buscando juntos por diálogo sobre dificuldades, insatisfações e dúvidas sobre sua sexualidade livres de julgamentos e amarras sociais.

Esforce-se para incluir cada vez mais diálogo, sinceridade e empatia na sua relação. Afinal, uma relação nunca estará tão bem que não possa melhorar. Busque mais saúde para si mesmo e para a sua relação com a pessoa amada!

Estamos vivendo já a 3ª década dos anos 2000 e precisamos urgentemente aprender a viver nossa sexualidade de maneira saudável e proveitosa. Não podemos seguir tratando o sexo com a mesma percepção distante e desumanizada do milênio passado.

Vamos viver nossa sexualidade com muito mais amor, diversão, saúde e prazer!

Esse é o manifesto do Motel Tarot para uma sexualidade com menos tabus e sofrimento!

Estamos de portas abertas para te propiciar o que há de melhor no sexo! Escolha sua suíte favorita e venha se divertir com seu amor!

Foto de casal abraçado e feliz com a moça sentada no colo de um homem ajoelhado.

Imagens via Pixabay.

 

Texto originalmente postado em 26/12/2019 e atualizado em 25/03/2021.

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