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Tendências Sexuais

Muito falamos aqui sobre o processo de naturalização do sexo. Até algumas décadas atrás, o tema era um completo tabu para grande parte da sociedade e os que tratavam o sexo com naturalidade eram vistos como transgressores e devassos, como se viver a sexualidade não fosse parte integrante da vida.

O medo era de que, se as pessoas passassem a ver o sexo como algo despropositado, corriqueiro, a sociedade se tornaria cada vez sexualizada, animalesca.

Desde a Revolução Sexual da década de 60, porém, esse cenário começa a mudar com mais intensidade. O estigma sobre o sexo e a sexualidade vem sendo desconstruído e o sexo casual ganha cada vez mais aceitação na sociedade, que começa a perceber que o desfrute dos prazeres físicos trazem até mesmo benefícios para a saúde e para a vida de maneira geral, não existindo um motivo realmente válido para coibir as pessoas a curtirem seus próprios corpos e se divertirem com as interações sexuais.

E, para verificar a veracidade da lógica que defendia que a sexualidade plena deveria ser coibida para o bem-estar da sociedade, perguntamos:

Tal abertura da sociedade em relação ao sexo significa que as pessoas estão transando mais? Talvez não!

 

Fazemos mais ou menos sexo?

Uma tradicional pesquisa destinada a mapear o comportamento sexual da população do Reino Unido realizada a cada 10 anos e publicada pelo British Medical Journal aponta uma tendência de clara queda na atividade sexual.

Vejamos alguns dados da pesquisa mais recente:

  • quase um terço das pessoas afirma não ter feito sexo nos últimos 30 dias;
  • na faixa entre 16 e 44 anos, menos da metade afirma fazer sexo pelo menos 1 vez na semana;
  • as pessoas que dizem terem feito sexo mais de 10 vezes no último mês caiu da faixa de 20% para 10%.

E o mesmo movimento é visto nos EUA.

O National Opinion Research Center, centro de pesquisa da Universidade de Chicago, realiza desde 1972 pesquisas de opinião sobre assuntos variados, analisando as oscilações no padrão de comportamento da sociedade. Em 2019, essas pesquisas apontaram um dado relevante: o percentual de pessoas que afirmaram não ter feito sexo nenhuma vez nos últimos 12 meses quase dobrou do índice anotado em 2008, chegando a 23% dos respondentes.

É isso mesmo: quase um quarto da população passou um ano inteiro sem fazer sexo. Ainda mais curioso é que o aumento foi percebido principalmente entre os homens na faixa de 18 a 30 anos, ou seja, jovens rapazes. Exatamente na contramão dos estigmas mais fortes do universo do sexo vilanizado – a ideia de que o sexo é uma necessidade quase indomável para os homens, principalmente no início da atividade sexual.

Aparentemente, isso não é bem verdade. Ou pelo menos não mais.

A empresa SimpleTexting, buscando entender o comportamento das pessoas com tecnologia e seus gadgets, realizou uma pesquisa que traz informações interessantes para entendermos a queda no interesse masculino por sexo. Na pesquisa, foi perguntado a 1000 norte-americanos a que eles renunciariam para manter o uso cotidiano de seus smartphones. Uma das renúncias mais surpreendentes foi justamente o sexo. Vejamos alguns dos números:

  • em um período de um mês, 40% dos homens prefeririam manter o uso dos smartphones que as relações sexuais;
  • entre a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2015), o percentual de respondentes que optariam por um mês de uso do celular invés de sexo sobe para 56%;
  • na população geral, essa taxa ficou em 47%.

 

Desinteresse Geracional

Uma tendência similar de queda no interesse por sexo já havia sido identificada entre os Millenials, aqueles que nasceram entre 1980 e 1994, que foram apontados como a geração sexualmente mais inativa desde a Grande Depressão.

O estudo que apontou esse fato também foi realizado com indivíduos norte-americanos e foi publicado pela tradicional revista científica Archives of Sexual Behavior e apontou a seguinte escalada:

A porcentagem de jovens entre 20 e 24 que afirmam não ter parceiros sexuais desde os 18 anos:

  • nascidos na década de 60: 6%
  • nascidos entre 1980 e 1994 (Millenials): 15%

Aparentemente, mesmo com a crescente abertura social para debater e experimentar o sexo com mais liberdade e consciência, passamos a fazer cada vez menos sexo.

E, trabalhando em nosso próprio jabá, no texto sobre Energia Sexual trazemos algumas ideias que podem ajudar a explicar essa relação inversamente proporcional.

 

Possíveis Causas

Há duas correntes hipotéticas para explicar esse fenômeno entre os especialistas.

 

Politização do Sexo

A primeira é quanto ao maior acesso à informação. Desde a epidemia do vírus HIV a partir da década de 80, a educação sexual também passou a ser muito mais abrangente e disseminada entre as mais diversas camadas sociais como uma das formas mais eficazes na prevenção ao vírus. Essa crescente em divulgação de informação de qualidade sobre o sexo também foi impulsionada por diversos outros fenômenos sociais nos últimos 30 anos, criando uma consciência muito maior aos riscos de uma atividade sexual tanto para a saúde quanto para o planejamento familiar.

Isso, por si só, pode ter refreado os impulsos por liberdade sexual e aumentado os crivos dos jovens na tomada de decisão quanto à vivência de sua sexualidade.

Outra influência do aumento e evolução da informação nos últimos anos, magnanimamente potencializada pelo advento tecnológico e pleno desenvolvimento da comunicação digital, é a sexualidade atrelada a uma maior politização da juventude mundial. Nas primeiras eclosões da liberdade sexual, o sexo era ainda muito atrelado, além de todos os fatores que já debatemos em outros momentos, à rebeldia e demonstração clara e ativa de uma conquista social quanto às liberdades individuais.

Comportamento diretamente relacionado ao estigma que citamos ao abrir esse texto, que defendia que quanto mais sexo fizéssemos, mais desregrada e caótica ficaria a sociedade.

Conforme é atingida a fase de estabilidade dessas conquistas, a ideia de liberdade sexual amadurece e ganha novas interpretações sociais, podendo influenciar no aprofundamento e ampliação dos crivos quanto a uma sexualidade ativa e saudável, extrapolando os filtros de ‘poder fazer sexo’ e questionando o ‘querer’ e o ‘dever’, além de até mesmo o direito a não querer fazer sexo se consolidando, conquista muito em voga nas searas de empoderamento feminino e emancipação da mulher dentro das relações afetivas.

 

Estilo de Vida

Chegando a questões de cunho emocional, estão os novos padrões de ciclos e estilos de vida da sociedade contemporânea, principalmente da parcela mais jovem, pertencente ainda à Geração Z e aos Millenials.

Definido por alguns como “amadurecer mais tarde”, os jovens estão levando mais tempo para sair da casa dos pais/parentes e assumir o protagonismo de suas próprias vidas, pois desenvolveram um viés diferente das gerações anteriores quanto ao que seria uma Vida Bem Sucedida, para eles muito menos atrelada ao sucesso profissional e bens materiais e sim priorizando conquistas emocionais e psicossociais.

Esse “acréscimo” de fases no desenvolvimento dos jovens pode estar afetando direta e indiretamente seu interesse por sexo. Primeiro, por questões logísticas: ter menos acesso e liberdade de ambientes propícios para a prática, horários disponíveis e até mesmo o regramento do ambiente familiar. Em segundo plano, com tantas outras demandas priorizadas por eles, o sexo por sexo acaba se tornando cada vez mais secundário e menos relevante.

Por último, ainda na seara emocional, está a contemporânea fragilização das relações afetivas, popularizada pelo aclamado filósofo Zygmunt Bauman como Era das Relações Líquidas, explicada por psicanalistas e especialistas como uma dificuldade em desenvolver vínculos afetivos e lidar com eles no longo prazo, implicando em medos, fobias e falta de manejo afetivo que leva os jovens a evitar os relacionamentos e, por consequência, praticarem menos sexo.

 

Sexualidade com Naturalidade

Esses variados motivos e causas para a diminuição do interesse em sexo das novas gerações podem estar relacionados entre si ou configurar fatores isolados a depender do caso. Pode também indicar uma nova fase da relação das sociedades com a sexualidade e suas liberdades, sendo um fenômeno passageiro ou que se consolidará no médio prazo.

Sem tentar fazer previsões ou análises complexas, que não é nosso intuito, é importante que saibamos as tendências do comportamento humano com relação ao sexo para analisarmos nossas próprias necessidades sem sentir a pressão social por estarmos enquadrados ou não aos padrões – que são variados e diversos.

A moral da história continua a mesma – a sexualidade afeta cada um de nós de maneira única e individual, o que vale para um, pode não fazer sentido para o outro e não há nada de errado nisso!

A sexualidade saudável exige que tenhamos um olhar atento ao que nosso corpo e mente nos pedem e saibamos dialogar tais desejos com nossos parceiros de forma a respeitá-los e sermos respeitados.

Como você tem percebido a sua sexualidade? É do time dos que estão transando mais ou menos?

Conta pra gente!

 

Texto originalmente postado em 10/12/2020 e atualizado em 30/10/2022.

Imagem Destacada por Joey Nicotra via Unsplash

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