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Fingindo Orgasmos

Fingir orgasmo é um clássico, não é mesmo? Quem nunca presenciou gemidos forçados, gestos claramente exagerados e uma cara de satisfação não tão satisfeita assim?! Quase todo mundo tem uma história de gozo falso pra lembrar.

Quando se pesquisa por ‘fingir orgasmo’ o que mais se encontra são dicas de como fingir o prazer com eficiência sem que o parceiro perceba e as posições que facilitam o convencimento do gozo inexistente. Esse tipo de “sugestão” só reforça a ideia de que é mesmo necessário fingir que a relação está boa mesmo quando não se sente prazer algum com o sexo.

O leitor assíduo do Blog do Tarot já sabe bem que essa ideia está completamente desconectada da realidade atual de Sexualidade!

Então por que ela segue normalizada?

Por Que Fingimos Orgasmos?

Fingir Orgasmos é uma escolha que muita gente ainda acredita ser necessária! Tanto é verdade, que existe uma infinidade de pesquisas que apontam esse fenômeno, vejamos uma delas para ilustrar essa realidade.

De acordo com uma pesquisa foi publicada em 2019 na Archives of Sexual Behavior, publicação oficial da International Academy of Sex Research, 58,8% das mulheres participantes já teriam fingido um orgasmo. Os dados são de uma população de pouco mais de mil mulheres norte-americanas heterossexuais entre 18 e 94 anos. E esse não é o número mais impressionante: das que assumiram ter experiência em orgasmos falsos, apenas 3% fingiram o clímax ocasionalmente enquanto que 55% afirmaram que essa é uma prática recorrente.

E os dados ficam cada vez mais assustadores: outro estudo feito com mais de 2 mil pessoas aponta que é mais propenso uma mulher fingir orgasmo em uma relação duradoura que em uma interação sexual casual. Isso não soa estranho pra vocês? Afinal, as relações duradouras não deveriam oferecer um ambiente mais seguro e confortável para que as pessoas realmente sintam a liberdade de fazer e pedir o que gostam no sexo invés de fingir prazer?

E a diferença não é sutil: enquanto apenas 20% das mulheres afirmaram já ter fingido um orgasmo em uma relação casual, 31% admitiram já ter fingido durante um namoro.

Ao investigar os motivos, sexólogos, terapeutas e estudiosos da questão afirmam que o ponto-chave está na rotina típica de cada relação. Ao irem a encontros casuais, as pessoas sabem da possibilidade de o sexo rolar e estão preparadas para ele, mas na rotina de uma relação estável, principalmente quando o casal mora junto, as investidas sexuais do parceire muitas vezes vêm inesperadamente e a pessoa não quer ‘negar sexo’ e desapontar o companheire ou passar a ‘mensagem errada’, acabando por escolher transar mesmo sem estar completamente à vontade (e com vontade).

E sabemos bem que o sexo por obrigação ou só pra “cumprir tabela” realmente não tem graça nenhuma, não é mesmo?

Quem Finge Orgasmo?

Mulheres fingindo orgasmo é um evento tão trivial e normalizado que não gera espanto algum, mas você já ouviu alguma história de homens encenando o coito?! Claro que não, afinal, é fisiologicamente impossível, certo?!

Errado!

É realmente de se espantar, mas outra pesquisa divulgada pela Time Out New York em 2014 aponta que quase 31% dos entrevistados homens também já fingiram ter gozado mesmo sem chegar lá!

É claro que a coisa fica muito mais fácil quando o cara está usando camisinha. Basta uma destreza mínima no manuseio e na cara-de-pau para que uma rápida corrida pro banheiro disfarce a incapacidade de gozar. Quando não se usa camisinha, a coisa fica um pouco mais complexa e exige um pouco mais de talento cênico para disfarçar a inexistência do líquido fertilizante, mas também não torna o feito impossível, segundo eles.

Orgasmo e Saúde

Apesar da grande normalização quanto ao hábito de fingir orgasmos, há também muitas pessoas que simplesmente não conseguem atingi-lo por questões fisiológicas e de saúde e não procuram ajuda especializada por vergonha ou desinformação. Já abordamos algumas dessas situações no texto Anorgasmia, por exemplo, mas essa está longe de ser a única causa.

Como já citamos, a falta de vontade no momento aliada a uma subjetiva sensação de ‘obrigação’ do desejo sexual e/ou aceitação do sexo pelo suposto bem do relacionamento é outro motivo bastante recorrente. Além desses, há ainda muitos outros motivos relacionados a fatores emocionais, sociais e psicológicos, que já discutimos em outros momentos e podem ser vistos em Sexo Sem Orgasmo e Tabus da Sexualidade.

Mas e quais as consequências de fingir orgasmos para a saúde e o organismo? São algumas – e importantes. Analistas da mente e comportamento humano apontam que ao fingir orgasmos por motivos quaisquer podemos ativar gatilhos no cérebro, tornando o ato como uma resposta recorrente e automática.

Em outras palavras, fingir orgasmos pode se tornar um ciclo vicioso no qual não se está tendo um momento de prazer na interação sexual, mas finge-se que sim e o cérebro associa o sexo como algo desinteressante, não prazeroso. Isso faz com que o desejo sexual caia e a possibilidade de interações sexuais seja cada vez menos interessante para a pessoa, que, defrontada pelas tentativas do parceire, recorre novamente ao hábito de fingir interesse e prazer, reforçando a associação cerebral de que o sexo não é algo prazeroso e interessante.

Além disso, há as consequências bioquímicas, já que o que torna o orgasmo tão gostoso para o corpo é a descarga de substâncias químicas benéficas ao organismo no momento do ápice do prazer. Ao fingir orgasmos, acabamos evitando a chance de que essa descarga realmente ocorra e, assim, impede-se o recebimento de tais substâncias pelo corpo, minando sensações típicas do pós-coito como relaxamento, bem-estar, benefícios ´para a saúde da pele, unhas e cabelos, manejo de estresse, além de fatores subjetivos como conexão interpessoal e confiança com o parceire, como explicado em Homossexualidade no Reino Animal.

Ou seja, fingir orgasmos desencadeia ciclos viciosos tanto do ponto de vista físico quanto emocional que prejudicam não só a sexualidade quanto a qualidade de vida da pessoa, sendo prejudicial tanto para ela quanto para os seus relacionamentos afetivos. Sabemos já como a sexualidade é importante para o bem-estar geral das pessoas, mas você já imaginou uma vida desprovida de amor, paixão e relacionamentos afetivos?!

Aposto que não é o que você, caro leitor, deseja para a sua vida, não é mesmo?!

Orgasmos Secos

Agora uma informação importante e muitas vezes ignorada: nem sempre a inexistência de ejaculação e fluídos indica que a pessoa esteja simulando sensações! Há o forte estigma de que pessoas saudáveis e ativas sexualmente liberam fluidos em toda relação, fato principalmente disseminado pelas irreais produções pornográficas, que supõe que homens e mulheres têm uma capacidade exagerada de ejaculação.

A verdade é que a ejaculação feminina é ou uma lubrificação extra produzida pela Glândula de Skene ou um líquido limpo formado na bexiga e composto pelas mesmas substâncias da urina, formando uma espécie de urina diluída, que pode acabar sendo expelida após os estímulos intensos do sexo. É um fenômeno possível, mas nada comum. A incidência máxima desses fenômenos gira em torno de 50% e não necessariamente em todas as relações. Ou seja, quase metade das mulheres do mundo nunca irão fazer o famoso squirting e as que fizerem, não o farão sempre. Esqueça as cenas inacreditáveis do pornô!

A ejaculação masculina, por outro lado, também não acontece obrigatoriamente em todas as relações. Há alguns fatores que podem fazer com que um orgasmo seco ocorra, como alta frequência sexual em um curto período, deixando o corpo masculino sem fluidos seminais temporariamente, o que não significa que os espermatozoides não estejam presentes – portanto, métodos contraceptivos devem continuar sendo priorizados mesmo em casos de orgasmos secos.

Por Que Não Gozamos?!

Além das muitas questões e pressões sociais que impedem a fluidez do prazer no sexo e as questões de saúde que já mencionamos. Há outros fatores indiretos que também afetam o desempenho sexual e a relação com o prazer na hora H. Aqui é quase impossível não falar sobre pornografia.

A indústria pornográfica, tão abertamente criticada do ponto de vista da sexualidade saudável, não deixa apenas a ilusão quanto à capacidade e características do gozo na cabeça de seus telespectadores. Outra situação muito comum tanto nos vídeos pornôs como em muitos filmes e séries em geral é que os casais chegam ao clímax ao mesmo tempo. Esse é sim o cenário ideal para muitos casais, mas é também bastante raro! O desejo de controlar o momento do gozo e aguardar para que ele ocorra no mesmo momento do parceire é apontado como um dos principais motivos para que homens e mulheres não consigam gozar!

Expectativas incompatíveis com a realidade e comparação externa são os principais fatores que impedem as pessoas de aproveitarem completamente o momento no sexo. Outras causas são a pressão da primeira vez com o parceire do momento, o medo de não performar a contento e a insegurança sobre seu próprio corpo. Já comentamos alguns desses fatores e como eles prejudicam a performance e o desfrute do sexo em Autoimagem e Sexo.

Mas há ainda outros fatores motivadores para que a incapacidade de gozar aconteça, como a própria pressão de que devemos gozar em toda relação sexual, cansaço, ingestão de álcool, estresse, ansiedade e problemas variados, sejam de cunho pessoal, profissional ou até conjugal.

 

Por que fingimos tanto?!

Tais fatores são comuns entre os gêneros. Afinal, todo mundo tem problema, tem paranoias e tem insegurança. Todos querem construir uma imagem boa de si mesmo para o outro, querem receber o olhar de admiração e desejo, mas nem sempre estão em um bom momento e o sexo acaba sendo desvirtuado.

Alguns dos principais motivos que nos levam a fingir invés de resolver o que não está funcionando são: falta de conhecimento sobre nosso próprio corpo e que gatilhos nos excitam e o fato de não querermos magoar ou decepcionar o parceire assumindo que não estamos afim de sexo.

A resposta direta para tais questões é: reflexão, informação e diálogo. Se não estamos à vontade com o sexo, é preciso entender os motivos. É uma questão física? É uma questão emocional? É uma questão do relacionamento?

Por enquanto, fiquemos com o questionamento:

Você já fingiu um orgasmo?!

Sabe o real motivo para ter fingido?

Acha necessário voltar a fingir?

Conta pra gente o que você pensa sobre Fingir Orgasmos e ajude as pessoas a terem uma sexualidade cada vez mais saudável!

 

Texto originalmente postado em 07/05/2020 e atualizado em 26/08/2021.

Imagem Destacada por jcomp via br.freepik.com

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