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O fetiche por amarrações e limitações na hora H é um dos mais controversos que existem. Muitos adoram e muitos condenam. Às vezes até quem adora condena. E muitos que condenam também adoram!

Pra você definir em qual time está, vamos descobrir um pouco mais desse universo que já conta com quase 500 anos de história.

O que é Shibari?

O Shibari é originário da cultura samurai e inspirado no hojojutsu, uma técnica desenvolvida no período feudal para amarrar prisioneiros com cordas. A própria palavra Shibari significa amarrar. Havia diferentes técnicas de amarração usadas pelos samurais a depender do objetivo: torturar, extrair confissões, punir. Ao longo da história, as amarrações com corda foram se desenvolvendo e ganhando novos tipos de nós. Os próprios samurais utilizavam diferentes técnicas de amarração para simbolizar a honra e o status de seus prisioneiros ou colocá-los em uma posição de submissão e humilhação, servindo de advertência simbólica para a sociedade.

Não demorou para que as variadas técnicas e nós chamassem atenção pelo apelo estético, sensorial e até mesmo emocional, sendo absorvidas pelo universo sensual, dando origem ao que ficaria conhecido como o Bondage Oriental. As similaridades entre as duas práticas ficam explícitas ao citarmos a possibilidade de submissão do amarrado, mas a diferença essencial entre elas é justamente o objetivo.

O Bondage tem como preceito a submissão, o que os praticantes desejam é assumir a posição de ‘dominador’ e/ou ‘submisso’, enquanto que o Shibari deseja apenas usar o apelo sensorial, estético e emocional dos nós e amarrações para gerar prazer físico e sexual, sem colocar o parceire em uma posição submissa ou inferior.

Características do Shibari

Com o desenvolver da técnica de amarrações ao longo dos anos, o Shibari transformou-se em uma verdadeira arte erótica, cuja principal característica é realçar a imagem do corpo através de padrões geométricos e formas que contrastam com as curvas naturais do corpo humano, enfatizando fatores como sensualidade, vulnerabilidade e força.

Além da parte estética, o posicionamento dos nós é escolhido para estimular pontos de pressão no corpo, assim como outras técnicas também orientais de acunpuntura e Shiatsu, uma massagem japonesa, também o fazem. Dessa forma, apesar de todo o apelo erótico e sensual do Shibari, para os seguidores fieis da técnica, ela traz também uma potência emocional, representando a entrega a todos os tipos de emoções e sentimentos, com efeito similar a um processo terapêutico de cura e autoconhecimento.

A vertente terapêutica, associada a outras práticas tradicionais na cultura oriental como reiki, yoga e tantra, é, portanto, tão importante para os praticantes quanto as vertentes mais reconhecidas ao redor do mundo, como a artística, estética e erótica.

Essa é outra diferença do Shibari em relação ao Bondage. Por esse respaldo para além do sensual, há uma atenção especial acerca dos materiais usados. No Shibari, as cordas têm um papel muito importante. Elas não são apenas o ferramental, mas o meio no qual flui a emoção entre quem amarra e quem está sendo amarrado, é a forma de conexão entre os parceiros. Por isso, o material das cordas não pode ser escolhido a esmo. Os nós do Shibari devem sempre ser feito por meio de cordas de fibras naturais, sendo o cânhamo um dos mais utilizados, acompanhado por fibras de juta, coco, algodão e bambu.

Shibari na prática

Apesar de todos os fatores não sexuais da tradicional prática oriental, o Shibari é capaz de mexer com nossas emoções e estimular a energia sexual. A sensação de cerceamento e privação de liberadade ativa mecanismos de defesa e segurança, liberando neurotransmissores essenciais para o prazer, como endorfina, adrenalina e dopamina.

Em consequência, é de fundamental importância a confiança e o cuidado um com o outro durante a prática, pois o shibari pode desencadear sensações profundas e despertar gatilhos emocionais e até mesmo lesões físicas. Esse cuidado e atenção exigidos dos participantes pode estimular a intimidade entre os praticantes e fortalecer fatores emocionais e os vínculos afetivos entre eles. A possibilidade de entrar em contato com sentimentos e desejos “escondidos” ou “adormecidos” em seu ser ajuda a ganhar maior controle e segurança sobre as emoções, propiciando maior equilíbrio emocional.

Outro ganho muito valorizado pelos praticantes é a consciência corporal. Os nós geram sensações físicas com o objetivo de estimular a sensibilidade. Os pontos de pressão escolhidos são de fundamental importância para a prática, pois devem ser feitos com conhecimento e não ao acaso. Se feito sem o devido preparo e cuidado, pode apresentar riscos à saúde dos praticantes, comprometendo a circulação sanguínea e podendo causar lesões em nervos, tendões e outras partes importantes do corpo. Não à toa a orientação básica impõe que sempre estejam à disposição a tesoura de ponta romba para cortar os nós com agilidade em caso de incômodos e água, para normalizar as possíveis quedas de pressão.

O planejamento da sessão de Shibari pode incluir ainda um roteiro, a encenação de uma história e outros acessórios concomitantes, como vendas, mordaças, loções ou geis térmicos e uso de diferentes texturas, potencializando as sensações.

É sempre bom lembrar também que a prática do Shibari exige o consentimento. É preciso conhecer as técnicas de amarração para garantir o bem-estar físico e emocional dos praticantes e não oferecer qualquer tipo de risco à sua saúde e segurança. As regras devem ser claras e a presença de sinais ou palavras de segurança pode ajudar a indicar com clareza os limites de conforto e prazer.

Garantida a segurança, os participantes ficam livres para criar suas próprias regras, inclusive a escolha entre o mestre e o submisso, papeis que podem ser interpretados tanto pelo homem quanto pela mulher ou alternados a cada prática.

Experimente o Shibari!

Já deu pra perceber que o Shibari é muito mais que uma brincadeira de nós e amarrações, não é? Mas isso não significa que você não possa praticá-lo!

Procure por apresentações de Shibari e vá entendendo aos poucos o potencial apelo que a técnica traz pra você. Há muitas variações e possibilidades e experimentar é a palavra de lei no sexo! Há ainda cursos em diferentes níveis e grupos de prática que podem te ajudar a descobrir todas as delícias desse universo.

E aí, ficou curioso para conhecer melhor essa tradicional arte erótica oriental? Se gostar da experiência, as suítes do Motel Tarot estão sempre à sua espera!

Texto originalmente postado em 09/01/2020 e atualizado em 06/05/2021.

Imagens do texto por MichaelRaab via Pixabay

Imagem Destacada por Anja via Pixabay