Por que fazemos sexo?
Nos últimos textos do Blog do Motel Tarot temos visto diferentes tendências que nos fazem pensar: o que queremos com o sexo?
Afinal, vimos casos de pessoas assexuais, que se relacionam afetivamente, mas não gostam de sexo ou não sentem atração sexual e também a crescente tendência em manter relações sexuais por intermédio da tecnologia, o SexTech.
Parece que o prazer no contato físico e sexual vem perdendo força na sociedade moderna e a vontade de ter filhos também perde urgência entre as famílias. Será isso mesmo?
Em busca dessa resposta, fomos atrás da história da sexualidade humana ao longo dos milênios e resolvemos destacar alguns pontos aqui para vocês acompanharem essa jornada e entendermos juntos o significado que o sexo tem para a humanidade. Vamos lá?
- Sexo com Prevenção
A prevenção no sexo tem sido uma estratégia usada há muito mais tempo que imaginamos. Pinturas encontradas na caverna de Combarelles, na França, representam cenas de sexo já com o pênis coberto. A estimativa é de que os desenhos sejam de cerca de 12 mil anos. Registros apontam que os homens de classes altas do Egito Antigo faziam uso de acessórios feitos de intestino animal na glande peniana, condizente com o material usado para a fabricação das primeiras camisinhas da história, como relatamos em Métodos Contraceptivos – Camisinha.
As variações dos antigos preservativos estiveram presentes ainda entre os faraós, que usavam papiro lubrificado com óleo e entre os chineses, que usavam papel de seda untado para os cuidados preventivos no sexo.
- Sexo com Prazer
Os brinquedos eróticos vêm ganhando o mercado e o gosto do público, mas eles estão longe de ser novidade. O primeiro dildo que se tem conhecimento na história foi encontrado em 2005 em uma caverna na Alemanha e estima-se que tenha cerca de 30 mil anos.
Da pré história pra cá, muitos modelos foram criados. Você sabia que o vibrador foi o 5º eletrodoméstico do mundo? Pois bem, ele chegou ao mercado como um massageador de músculos e logo caiu no gosto popular, sendo largamente utilizados pela industria pornográfica, o que contribuiu para o tabu criado em cima do sex toy que persiste até hoje.
A partir da década de 60 pra cá, as conquistas sociais quanto à liberdade sexual e à sexualidade feminina deram novo ânimo ao segmento e os dildos e vibradores ganharam uma infinidade de tamanhos, cores, formatos e texturas e vêm deixando o sexo muito mais intenso e prazeroso para homens, mulheres e casais ao redor do mundo.
- Sexo sem Gravidez
Evitar a gravidez sem ter que deixar de aproveitar os prazeres do sexo é um desejo muito mais antigo do que se imagina. Estudiosos apontam que ele remonta a 3000 a.C. Algumas das referências à métodos para prevenção de gravidez estão no Papiro Kahun, datado de 1825 a.C que conta com 2 de seus 34 parágrafos sobre questões ginecológicas exclusivamente dedicados a fórmulas variadas para o sexo sem gravidez; outras estão no Papiro Ebers, de 1552 a.C., que soma 700 registros de fórmulas de contracepção.
É claro que a ciência atual não consegue comprovar qualquer tipo de eficácia na maioria dos métodos contraceptivos da antiguidade e os métodos mais eficazes ainda são o uso correto de preservativos e anticoncepcionais.
A pílula anticoncepcional, divisor de águas na história da sexualidade feminina, não foi objetivamente uma descoberta, mas sim um clamor social. Há diferentes versões para a história de sua formulação: uma delas afirma que a fórmula objetivava tratar problemas menstruais, como ciclos irregulares e sangramento excessivo. Com tamanha demanda de mulheres que relatavam tais incômodos, provavelmente tentando dissimular as reais intenções de evitar uma gravidez indesejada, a droga teria sido oficializada e liberada como contraceptiva.
Outra versão é o exato oposto. A pedido de Margaret Sanger e Katherine McCormick, o cientista Gregory Pincus teria desenvolvido uma fórmula fácil, eficiente e barata para evitar a gravidez. Como o uso de contraceptivos era proibido nos Estados Unidos na época, o objetivo alegado para o desenvolvimento da pílula era atenuar os sintomas incômodos da menstruação.
De uma forma ou de outra, em 18 de agosto de 1960, a pílula anticoncepcional era lançada no mercado e mudaria a vida e os hábitos de todo o mundo ocidental, proporcionando um ambiente seguro para a sexualidade ser vivida com muito mais prazer e saúde.
- Observação e Análise do Sexo
Logo depois do lançamento da pílula anticoncepcional foi realizado, ainda muito discretamente para a sociedade, a primeira pesquisa científica clínica sobre sexo envolvendo o acompanhamento e monitoramento de voluntários – praticando sexo em tempo real.
O objetivo era acompanhar as reações físicas do organismo durante o ato sexual e entender de forma científica o sexo. A pesquisa resultou em uma descrição mais precisa das fases da resposta sexual (que abordamos no texto sobre Disfunções Sexuais) e ajudou a descontruir crenças e tabus sobre sexo amplamente usados para condenar socialmente a prática sexual. A pesquisa foi transformada em livro (A Resposta Sexual Humana, Masters e Johnson) e o grande interesse social no tema fez com que o livro virasse um best-seller.
Por que fazemos sexo?
Apesar do estigma de imoral, indecente e depreciado que a prostituição teve ao longo de toda a história, essa é uma das práticas mais antigas do mundo. Diz-se até que a prostituição é a profissão mais antiga que existe, tendo, inclusive, sido regulamentada na Roma Antiga, com pagamento de impostos e tudo.
Até hoje não tivemos nenhum sucesso em impedir a comercialização do sexo e dos corpos, muito menos as violências sexuais que sofrem milhares de vida todos os dias ao redor do planeta.
Já tivemos inúmeras iniciativas para tentar desconstruir o estigma negativo que foi colocado sobre o sexo, como a instituição do Dia do Sexo em 20/11/1935 pelo Círculo Brasileiro de Educação Sexual, cuja ideia era exatamente mostrar que não há razão séria para classificar o ato como imoral ou pejorativo, mas sim uma prática natural em todas as espécies, seja por procriação ou por prazer.
O fato é: o sexo continua existindo e sendo praticado em suas variadas formas, com intenções e objetivos muito diferentes entre si, por pares e grupos muito distintos entre si e uns dos outros. Conseguimos com sucesso tornar o sexo mais seguro, mais saudável e evitar gestações não planejadas.
A dúvida, portanto, é: por que o sexo segue sendo tão estigmatizo? Por que temos tantas dificuldades em falar sobre sexo? Por que, apesar de não haver nenhuma possibilidade real de que ele seja banido da sociedade, seguimos praticando-o com tanto pesar e carga moral?
Por que, afinal, fazemos sexo?