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Cirurgia Íntima

Insegurança é um tema muito em voga atualmente na sociedade e quando se trata da aparência da região genital, o assunto é tomado dos mais diversos pudores e tabus. A consequência é que boa parte das pessoas sente algum tipo de desconforto ao lidar com a nudez, seja a sua própria ou a dos outros, justamente por sermos levados a acreditar que há algo errado com nosso corpo.

Se você acha que isso é exagero, tente identificar alguém da sua roda social que seja plenamente satisfeito com seu próprio corpo. Vá além e pense, com sinceridade, nas partes do seu corpo que te deixam desconfortável ao ficarem expostas ao olhar do outro.

As queixas são das mais variadas, mas há sempre alguma característica, por menor que seja, que sentimos a necessidade de melhorar antes de colocá-la à mostra. Quando chegamos a um contexto mais íntimo, principalmente com conotação sexual, aí sim o desconforto começa a ter proporções mais relevantes, uma vez que o encontro sensual pressupõe a nudez e a contemplação direta da imagem do parceiro, sem tantas possibilidades de fazermos com que aquele detalhe passe despercebido ou não chame tanta atenção.

As queixas e preocupações variam muito de pessoa para pessoa e mudam também conforme a fase da vida em que cada um está, mas, para um grupo cada vez maior, essas inseguranças físicas crescem até o ponto de se tornarem paralisantes. Isso mesmo, a vergonha e o desconforto que determinadas características representam para algumas pessoas se tornam obstáculos impeditivos na perpetuação de uma vida sexual ativa e saudável.

E as soluções encontradas para superar essa paralisia tem sido cada vez mais drásticas.

 

Imagem, Corpo e Insegurança

Já falamos um pouco sobre como as questões físicas podem desencadear pensamentos não saudáveis nas pessoas em Autoimagem e Sexo e, também como esse contexto pode causar até mesmo Disfunções Sexuais, pautadas pelo desejo de atingir expectativas irreais para os corpos e performances no sexo.

Com o crescente avanço tecnológico e, consequente avanço da medicina e suas técnicas, a possibilidade de alterar as pequenas imperfeições que enxergamos em nossos corpos tem ficado cada vez mais acessível à população em geral, sendo possível retirar aquele excesso aqui, melhorar a flacidez ali, aumentar um pouco acolá e atingir o corpo que consideramos ideal como num passe de mágica.

Essa poderia ser facilmente a descrição do aumento de cirurgias estéticas que estamos testemunhando mundo afora nas últimas décadas. Mas quão surpreso você ficaria se soubesse que, junto com as tradicionais lipoaspiração, aumento de mamas e de glúteos, é cada vez mais comum a realização de cirurgias estéticas na região íntima?!

Isso mesmo, procedimentos para melhorar a aparência da vulva ou até mesmo aumentar o tamanho do pênis têm se tornado cada vez mais procuradas em todo o mundo e o Brasil tem tido destaque nessa área, liderando no número de procedimentos ano após ano. Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), em 2014, o número de labioplastias realizadas no país passou de 15 mil, em 2016, as cirurgias íntimas já somavam mais de 25 mil procedimentos. Na Europa, no período de uma década, a realização de intervenções cirúrgicas na região íntima aumentou em 5 vezes.

Entre as causas mais relatadas para explicar esse forte crescimento estão a harmonização estética e a busca pela melhora da autoestima e segurança com o próprio corpo.

Essa insegurança na estética das partes íntimas atinge tanto homens quanto mulheres e independem da idade, uma vez que tem muito mais relação com as bases psicológicas de cada pessoa que com questões físicas de fato. Apesar de algumas pessoas afirmarem que o formato de seus genitais cause dor ou desconforto durante o ato sexual, o maior desconforto segue sendo a insegurança quanto a aparência, que impede ou prejudica a vivência da sexualidade.

Na tentativa de acabar de vez com a vergonha de expor sua intimidade, as cirurgias íntimas têm sido vistas como uma solução simples, rápida e eficiente para oferecer às pessoas um sonho antigo – o do corpo perfeito.

As Principais Cirurgias Íntimas

Também chamada de Cirurgia Plástica Genital, o procedimento tem o objetivo de ajustar a aparência genital para um suposto padrão estético, possibilitando que o indivíduo consiga desenvolver uma relação mais segura com sua própria sexualidade e obtenha, assim, mais prazer sexual.

Há uma série de variações de intervenções cirúrgicas genitais, cada uma propondo pequenas alterações a regiões específicas da vulva e do pênis. Vejamos as principais:

  • Labioplastia

Também chamada de ninfoplastia, o procedimento é o campeão de procura e consiste na retirada do excesso de pele dos pequenos lábios. Dependendo da técnica usada, ele pode cortar a parte mais externa dos lábios, que geralmente apresentam mais flacidez e uma coloração mais escura, deixando a vulva mais rosada e com aspecto pueril.

  • Redução do Monte de Vênus

O monte de vênus é um incômodo relatado tanto por homens quanto por mulheres e consiste em uma camada de gordura que se aloca entre o abdômen e a região pubiana. Em alguns casos, essa camada pode formar uma espécie de calombo na região que se torna incômoda para o indivíduo. Muitos homens relatam que esse suposto excesso de volume acima da região pubiana acaba chamando a atenção e gerando uma redução no tamanho aparente do pênis, causando insegurança quanto ao tamanho do órgão.

Curiosamente, esse acúmulo é justamente uma artimanha do corpo para conferir maior proteção à região, reduzindo os efeitos de possíveis impactos durante a relação sexual. Aparentemente, o que o corpo oferece para melhorar a sexualidade, a mente humana acaba percebendo justamente como um empecilho ao sexo.

  • Clitoriplastia

Talvez a mais polêmica de todas, a clitoriplastia consiste na remoção do excesso de pele na região do clitóris, o principal mecanismo de prazer sexual feminino. Alguns cirurgiões se recusam a realizar o procedimento justamente pelo risco que oferece em dificultar ou até impedir que a mulher consiga ter prazer das relações após o procedimento, considerando a intervenção como puro preciocismo.

Mesmo com o risco, a clitoriplastia vem caindo no gosto popular.

  • Bioplastia

Por fim, além das opções para retirar o excesso de pele, a bioplastia oferece justamente o oposto: o implante de substâncias bio-compatíveis para preencher regiões acometidas por flacidez, como os grandes lábios, ou até mesmo para preencher e aumentar a região, como na bioplastia peniana. Sim, o aumento do pênis é hoje uma possibilidade.

Soluções Estéticas para Problemas Psíquicos

As opções mais procuradas de cirurgias íntimas já deixam claro que a motivação é muito mais estética que de saúde. O grande desejo das pessoas, na maioria dos casos, é conquistar um aspecto físico que forneça a segurança sobre si mesmos que elas não conseguem sustentar.

Mas o que causa tamanha insegurança? Afinal, sabemos da diversidade dos corpos e como não há um padrão único de vulvas e pênis a ser buscado. A mesma evolução que conferiu muito mais praticidade, acessibilidade e segurança aos procedimentos cirúrgicos trouxe também a normalização das diferenças e neutralização do aspecto físico como determinação de valor entre os indivíduos.

O trabalho do artista britânico Jamie McCartney, chamado de The Great Wall of Vagina (O Grande Mural de Vaginas), é um exemplo dessa reflexão: engatilhado pela insatisfação com suas vulvas apresentada por mulheres durante a elaboração de um projeto para um museu do sexo, o artista se espantou ao descobrir a tendência crescente em recorrer às cirurgias estéticas para ajustar a aparência do órgão e criou paineis com réplicas de vaginas nas mais diferentes condições – diferentes idades, fases de vida e, inclusive, antes e depois de labioplastias.

A ideia é mostrar que não há um padrão de vulvas a ser buscado ou seguido, mas que cada órgão é único, mesmo na comparação em pessoas da mesma família ou até irmãs gêmeas.

O trabalho foi exposto em Milão em 2013 e pode ser acessado diretamente no site do projeto The Great Wall of Vagina. Há outras diversas iniciativas seelhantes elencadas também no texto Que Tal Um Museu?!

A facilidade de acesso aos procedimentos citados, geralmente realizados apenas com anestesia local, com duração de poucas horas, sem necessidade de internação e volta à rotina normal em algumas semanas, camufla a seriedade de uma intervenção cirúrgica. E a questão que deve ser respondida antes da decisão final é:

Precisamos realmente recorrer ao bisturi para ficarmos satisfeitos com a quantidade de pele que temos em nossa vulva?

O diâmetro de nosso pênis é realmente o fator mais determinante para o prazer em uma relação sexual?

Afinal, o que estamos buscando no sexo que faça com que uma alteração cirúrgica seja necessária para satisfazermos nossos desejos?

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