O Sexo da Década: Anos 2010
Mais um ano chega ao fim e essa virada simboliza também o fim de uma década. Uma década que trouxe muitas mudanças no campo da sexualidade humana. De 2010 para cá, ganhamos:
- acesso muito maior a produtos eróticos, que se tornaram mais diversos e pensados para todos os tipos de público e gostos;
- liberdade sexual para homens e mulheres de todas as idades;
- queda de muitos tabus através de informação de qualidade;
- conquistas de direitos sexuais para pessoas de diferentes gêneros e orientação sexual.
Há muito do que se orgulhar e desfrutar, mas há ainda muito a ser conquistado e a maneira mais simples de alcançar essas conquistas é através da informação. O sexo sempre foi rodeado por tabus e mitos, o que dificultou e, por muitas vezes, impediu que as pessoas vivessem sua sexualidade de maneira segura, saudável e prazerosa.
Por isso, postaremos aqui uma simples retrospectiva dos principais avanços que tivemos em fazer cair por terra todos os mistérios que envolvem nossa vida e saúde sexual.
Homossexualidade e Questões de Gênero
Essa com certeza foi uma das áreas com mais avanços e conquistas. Independentemente da orientação sexual de cada um, o destaque da década foi o ganho em reconhecimento e respeito a todas as expressões da sexualidade humana. Uma conquista basilar que poderia ter sido alcançada muitas décadas atrás.
Quando se analisa a evolução dos direitos e garantias na esfera LGBT, percebe-se que o grande avanço em solidifcar a emancipação do grupo sob a legislação vigente. Durante toda a década vimos iniciativas bem sucedidas de leis e direcionamentos legais, como, por exemplo:
- Em 2010, com a Política Nacional de Saúde Integral a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, por iniciativa do Ministério da Saúde;
- Em 2011, houve o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da união homoafetiva estável como entidade familiar, garantindo a casais de mesmo sexo direitos até então restritos a casais heterossexuais, como herança, benefícios da previdência e inclusão como dependente em plano de saúde;
- Em 2014, quando passou a valer o uso do nome social em exames como o Enem, seguidos por outros exames como Encceja e o Revalida;
- Em 2018, quando passou a ser possível a alteração de prenome e gênero no registro civil sem necessidade de cirurgia de mudança de sexo ou autorização judicial;
- Finalmente, também em 2018, com a divulgação da CID-11 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que deixa de classificar a transexualidade como ‘transtorno’ e passa a considerá-la como uma ‘condição’ além de retirá-la da lista de “distúrbios mentais” e inclui-la na categoria “condições relacionadas à saúde sexual”;
- Da mesma forma, a CID-11 também revisa a Homossexualidade, retirando a categoria “orientação sexual egodistônica”, que era utilizada em vários países como argumento para a proposição de “terapias de reversão sexual”.
Mesmo com tantos avanços, há quase 100 países que ainda criminalizam relações homossexuais e expressões de gênero, apenas um terço das nações elaboraram proteção na forma de lei para vítimas de discriminação por orientação sexual e só 10% dos países do mundo contam com mecanismos legislativos para proteção contra discrimição por identidade de gênero.
No Brasil, estudos que comparam as incidências de discriminação, violência física e sexual decorrentes de discriminação à comunidade LGBT mostram que houve mais casos em 2016 que em 2009.
Esses dados mostram a importância de seguir a luta contra toda forma de discriminação pois ela sujeita os indivíduos à exclusão social, perda de oportunidades educacionais e cívicas, instabilidade econômica, além de problemas no desfrute de direitos básicos de todo ser humano, como saúde e moradia. Tais situações levam o sujeito afetado a desequilíbrios que podem ocasionar consequências graves como depressão, ideação suicida, abuso de substâncias e prejuízos à saúde física e psicológica como um todo. Todos esses fatores, além de impactar o indivíduo, têm também consequências para toda a sociedade a seu redor.
Por isso, seja por empatia e senso de humanidade ou por interesses próprios, independente de sua posição e opinião quanto à conduta de um indivíduo em sua vida privada, é imprescindível que se reconheça que o respeito à vida humana e a garantia de acesso a todos os direitos básicos são determinantes para garantir uma convivência social harmônica e pacífica, desejo maior de todos nós.
Liberdade Sexual para Mulheres
Outro campo que viveu mudanças radicais foi a Sexualidade das Mulheres. Com o avanço e consolidação de movimentos e ideologias feministas que reconhecem que as mulheres têm uma sexualidade tão forte e presente quanto os homens e não há porque tratar a relação das pessoas com o sexo de maneiras distintas considerando apenas o seu gênero.
A sexualidade é muito mais que um fator biológico e reprodutivo, a forma como lidamos com ela afeta nossa saúde mental e qualidade de vida. Por isso, o crescente debate sobre as diversas temáticas da sexualidade feminina é fundamental para garantir uma sociedade mais justa.
Alguns dos pontos em destaque referente à Sexualidade Feminina entre 2010 e 2019:
- Em maio de 2012, o SUS aumentou em 25% a distribuição gratuita de preservativos femininos;
- Também em 2012, a conferência da ONU Rio+20 agendou propostas para pautas importantes como participação paritária de gênero, liberdade reprodutiva, direitos sexuais e não-violência de gênero;
- Alterações e atualizações à Lei Maria da Penha, reconhecendo mais formas de agressão à mulher e extendendo sua ação protetiva;
- Em 2013, com a Lei 12.845/13, chamada de Lei do Minuto Seguinte, que garante atendimento emergencial, integral e gratuito na rede pública de saúde sem a necessidade de apresentar boletim de ocorrência ou qualquer outro tipo de prova do abuso sexual sofrido;
- Em 2015 com a Lei 13.104/15 que passou a qualificar o Femicídio como crime hediondo;
- Em 2018, com a Lei 13.642/18, que acrescenta atribuição à Polícia Federal na investigação de crimes praticados na internet que propaguem ódio ou aversão às mulheres;
- Em 2018, com a Lei 13.718/18, que tipifica crimes de importunação sexual e atos contra a liberdade sexual;
- Em abril de 2019, houve a aprovação de declaração política em apoio ao Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) que estabeleceu que a saúde reprodutiva, direitos individuais e empoderamento das mulheres são determinantes para se atingir o desenvolvimento sustentável, promovendo a luta pela igualdade de gênero e liberdade sexual para mulheres.
Sexualidade no Corpo Idoso
Por último, mas não menos importante, a idade. A juventude sempre foi supervalorizada em nossa sociedade e parece que, conforme envelhecemos, perdemos nosso valor.
O avanço da medicina e tecnologia nesse aspecto foram fundamentais para fazer surgir um movimento de re-conhecimento do corpo humano. Não seria nada polêmico afirmar que até muito pouco tempo atrás pensávamos que a chegada da senilidade era sinônimo do cessar da atividade sexual.
É verdade que a maioria das dificuldades e disfunções sexuais aumentam com o envelhecimento, tanto em homens quanto mulheres. Segundo o relatório Sexualidade da Mulher Idosa, cerca de 20% das mulheres brasileiras acima de 60 anos apresentam falta de interesse sexual. Esse é um dos muitos possíveis sintomas que acometem mulheres no climatério (transição do período reprodutivo para o não reprodutivo).
Com os avanços em informação, educação e na própria medicina, desfez-se o tabu: muitos dos sintomas acerca da sexualidade a partir dos 60 anos, tratados até então como biológicos, são, na verdade, comportamentais. O desinteresse por sexo muitas vezes está associado à qualidade dos relacionamentos afetivos e não apenas às mudanças biológicas trazidas pela idade.
O referido relatório sugere como a baixa no interesse sexual está relacionado com a percepção social do envelhecimento e às atribuições negativas à aparência física de um indivíduo idoso e não apenas a fatores biológicos. O comprometimento da imagem corporal (tanto da percepção externa quanto do próprio indivíduo) acarreta em insatisfação e desvalorização da sexualidade e do poder de sedução.
A questão da autoimagem é agravada em casos em que o indivíduo idoso chega a essa fase da vida sozinho, por consequência de viuvez ou divórcios, por desestimular a pessoa a considerar novos relacionamentos afetivos ou sexuais.
Graças a movimentos sociais que apontam e indicam soluções para essas questões, o peso social de um relacionamento afetivo e sexual envolvendo pessoas idosas tem diminuído. Além de aceitarem com mais facilidade o interesse afetivo e sexual entre idosos, adultos passaram a se dedicar mais no cuidado com a saúde e com o físico, melhorando as condições em que chegam à terceira idade, podendo assim, seguir desfrutando das benesses da sexualidade ativa que, entre outros fatores, contribuem para aumentar a longevidade e qualidade de vida do indivíduo.
Sexo e 2020
Resumindo, sexo é bom. Em todas as idades, em todas as cores, em todas as formas, em todos os nomes.
Dedique-se a cuidar e prezar por sua sexualidade e sua saúde sexual. Respeite a sexualidade de todos e de cada um. Não invada a sexualidade de ninguém sem consentimento. Seja empático com as dificuldades e desafios que o próximo enfrenta ao viver sua própria sexualidade. Afinal, todos nós já tivemos e ainda temos nossas próprias inseguranças, desconfortos e frustrações.
Vamos dar as boas-vindas à nova década e colaborar para que seja um ciclo de evolução e solidificação dos direitos não apenas sexuais, mas de todas as formas de vida e de amor!
O Motel Tarot espera todos vocês de portas e corações abertos! Feliz 2020!