Autoimagem e Sexo
Google e Sexo
Seth Stephens Davidowitz é um economista que se debruça a analisar os termos mais relevantes nos buscadores de internet e em pesquisas recentes descobriu alguns fatos curiosos sobre as buscas referentes a sexo. Segundo sua pesquisa, a maior incidência de buscas relacionadas a casamento se referem à falta de sexo na relação. Termos como “casamento sem sexo” são 3 vezes mais comuns que “casamento infeliz” e 8 vezes mais comuns que “casamento sem amor”
Em números absolutos, a diferença entre os termos é de mais de 10 mil buscas. Somando os 3 primeiros termos no ranking que indicam a falta de sexo (sexless marriage, sex starved marriage, no sex marriage) chega-se a aproximadamente 24 mil buscas, somando os 2 primeiros termos no ranking para reclamações sobre casamentos não relacionadas diretamente ao sexo (unhappy marriage e loveless marriage) chega-se a quase 9 mil buscas. Uma diferença tamanha.
A falta de sexo também é apontada como um problema mesmo para pessoas não casadas, ainda segundo o pesquisador, a busca por “relacionamentos sem sexo” está atrás apenas de pesquisas sobre “relacionamentos abusivos”, termo em voga com as recentes mudanças sociais e crescente conscientização sobre abusos físicos, sexuais e psicológicos praticados em relacionamentos, seja por homens ou mulheres.
Realidade ou Neurose?!
Um dos pontos apontados pelo pesquisador para que o sexo seja um dos maiores problemas em relacionamentos é referente às neuroses que mantemos sobre nossos próprios corpos.
Em sua análise, Davidowitz chegou a essa questão por encontrar um número alto de pesquisas relacionadas a preocupações infundadas quanto ao sexo. Entre os homens, a maior delas é quanto ao tamanho do pênis, questionando se o membro é muito pequeno ou que fatores podem afetar o seu crescimento. Outra questão com alto índice de buscas masculinas encontrada na pesquisa foi como fazer a prática sexual durar mais.
A curiosidade maior está no fato de que tais preocupações não parecem ser tão relevantes para as mulheres, que realizam muito mais buscas na tentativa de encontrar soluções para “pênis grande demais” do que soluções para “pênis pequenos”. Sobre a duração, enquanto homens se preocupam em aumentar o tempo da transa, as pesquisas femininas quanto a durar mais ou menos são equivalentes em número, mas ambas perdem para buscas sobre o fato de seus parceiros não gozarem nas relações, independentemente se cedo ou tarde demais.
Essas diferenças de percepção levam a alguns questionamentos, como:
- De onde surge a preocupação com o tamanho do pênis?
- Por que o parceire não gozar é uma preocupação feminina, mas não masculina?
- Tais preocupações são levadas conosco para a cama? Afetam nossa performance e escolhas sexuais?
- São preocupações realmente válidas? Não há questões mais relevantes a nos perguntarmos sobre o sexo e a sexualidade?
Tais buscam suscitam reflexões quanto a tamanha preocupação sobre aspectos da própria aparência e desempenho sexual e se essas inseguranças estão afetando a performance sexual dos indivíduos ou prejudicando sua saúde sexual, psicológica e até mesmo física. A preocupação infundada pode levar à neurose que, por sua vez, ao ganhar proporção pode se tornar obsessiva e levantar o desejo pelo impossível e irreal.
Fantasiar situações e cenários incoerentes com as reais necessidades e desejos pode trazer gatilhos para a adoção de hábitos exagerados camuflados de cuidados, movimento que vemos com frequência na internet e redes sociais atualmente.
Cuidados Saudáveis
Falamos muito como a sexualidade mal resolvida pode afetar a nossa saúde, mas como seria isso na prática? Como podemos reconhecer quando uma mera preocupação excede o limite da busca saudável pela evolução?
Num parecer superficial, a tríade básica referente às neuroses e obsessões é: inibição, sintoma e angústia.
Você esconde seus desejos e preocupações com a aparência física e/ou a performance sexual? É capaz de falar sobre elas com amigos e parceires? Elas te causam algum tipo de desconforto, angústia, vergonha ou bloqueio?
Ao pensar sobre sua imagem, seu corpo, sua sensualidade, sua performance sexual você entra num ciclo crescente de dúvidas e racionalização exagerada? Tais pensamentos te levam a uma ânsia pelo controle sobre determinadas características físicas ou de comportamento?
Se essas questões são preocupações reais no seu dia a dia e trazem algum tipo de desconforto dentro das suas relações sexuais ou afetivas, pode ser a hora de procurar uma orientação psicológica e verificar até que ponto os cuidados consigo mesmo estão sendo saudáveis e positivos!
Imagem e Autoimagem
A pesquisa de Davidowitz tem relação com os novos comportamentos humanos. Buscar a solução na internet para problemas íntimos, que normalmente não são tratados ou são tratados com discrição, é uma das vantagens que a última década nos trouxe (falamos mais sobre esses avanços no post O Sexo da Década: Anos 2010!), mas tais problemas não são novidade.
A neurose humana com seu próprio corpo é um fato antigo e tem forte influência na maneira como vemos a nós mesmos e no quanto somos capazes de desfrutar uma vida de bem-estar e prazer. Claramente, ela também impacta diretamente nosso desempenho sexual. Muitos dos distúrbios sexuais mais comuns na sociedade são oriundos de fatores emocionais e psicológicos e prejudicam e, em alguns casos, até mesmo impedem a vivência de uma prática sexual satisfatória.
Já comentamos sobre alguns deles em Disfunções Sexuais e Anorgasmia, mas outros efeitos que podem ser engatilhados pelas neuroses e obsessões são impotências, frigidez, hipocondria e até problemas intestinais.
O ponto alto da análise do economista especialista em dados foi a conclusão de que o autoquestionamento e a insegurança sobre nossos corpos são um medo compartilhado por boa parte, se não todos nós, humanos. Não seria absurdo dizer que todos temos análises negativas sobre alguma(s) de nossas características físicas e, muitas vezes, acabamos ficando obcecados por isso. A boa notícia é que, se estamos todos obcecados com alguns de nossos próprios ‘defeitos’, pouco nos importamos com os defeitos do outro!
Autoreflexão: no momento da transa, quantas vezes você:
- teme que o parceire repare em algum ‘defeito’ seu?
- Quantas vezes você repara em algum ‘defeito’ dele?
- Quanto você se importa com o suposto defeito do parceire?
Exatamente! Muitas das características e situações que consideramos nossos pontos fracos e nos deixam inseguros são completamente irrelevantes para o outro, percebidos como algo neutro ou talvez até mesmo positivos. Frequentemente nosso autojulgamento será maior que o julgamento do outro.
Mulheres sempre consideram que sua bunda poderia ser um pouco maior ou um pouco menor. Outras estão insatisfeitas com o tamanho dos seios. Algumas acreditam ter coxas grossas demais ou finas demais. Homens têm pavor que seu pênis seja excessivamente fino ou pequeno, mas homens com pênis longos ou grossos normalmente tendem a evitar algumas posições porque são incômodas ou dolorosas para o parceire. Há homens que se consideram muito baixos, outros acreditam ser altos demais. Há homens acima do peso e outros desesperados para conseguir criar músculos e deixar o aspecto magricela no passado.
Quando o assunto é aparência física, todos nós temos nossas inseguranças e vergonhas. A boa nova é que ninguém liga tanto para elas quanto nós mesmos. Se alguma de suas inseguranças está se tornando um fator limitante em sua vida social e, principalmente, sexual, procure ajuda. É absolutamente normal querer ser melhor a cada dia, mas isso não pode afetar sua experiência sexual, muito menos sua qualidade de vida.
Deixe a neurose e a busca pela perfeição no passado e viva sua sexualidade da maneira saudável e cada vez mais prazerosa!
Para ler a matéria completa sobre a pesquisa realizada por Seth Stephens Davidowitz, visite a reportagem do The New York Times.
Texto originalmente postado em 23/01/2020 e atualizado em 03/06/2021.
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