Relacionamento em Crise
Os relacionamentos, assim como todas as áreas da vida, são compostos por diferentes fases. Numa análise superficial, pode-se dizer que essas fases são começo, meio e fim, mas sabemos que dentro de cada uma delas há muitas surpresas e reviravoltas que deixam qualquer histórica romântica muito emocionante.
Boa parte delas é de responsabilidade dos próprios apaixonados, mas outra é protagonizada por eventos que estão completamente fora do controle de qualquer um. Nas histórias recentes e atuais, um desses eventos foi a pandemia de coronavírus, iniciada no final de 2019 e que, aparentemente, seguirá presente no cotidiano mundial ainda por algum tempo.
Você pode estar se perguntando o que a pandemia pode ter a ver com as fases dos relacionamentos. O Motel Tarot te responde: MUITO! Explicaremos na sequência.
Pandemia nos Relacionamentos
Se na virada da década, falávamos alegres sobre as mudanças na sexualidade humana nos anos 2000, os primeiros anos da década de 2010 trouxeram mudanças em outra esfera: a relacional.
De uma hora para outra, vimo-nos obrigados a impor em nossa rotina hábitos e comportamentos muito inusitados até então, entre eles, a brusca mudança na maneira de nos relacionarmos com as pessoas – o contato pessoal estava muito limitado e uma preocupação constante com a saúde e bem-estar de pessoas queridas foi instaurada. Esse novo cenário trouxe muitos desafios para os relacionamentos, ilustrado pelos seguintes dados:
- Em 2020 houve um recorde no número de divórcios no país: 76.175 casos. Para comparação, em 2010 o número de divórcios foi de quase 46 mil, em 2007, havia sido pouco mais de 22 mil;
- O 1º SEM de 2021 já superou o recorde do ano anterior com crescimento de 24% (1º sem 2021 x 1º sem 2020), ultrapassando 37 mil divórcios;
- O estado de São Paulo foi líder nacional no aumento de divórcios com crescimento de 36% em um período de 12 meses.
As fontes dos dados são o IBDFAM e o Colégio Notarial do Brasil.
As opiniões de especialistas são uníssonas: a intensificação da convivência foi a principal causa da inegável tendência. É fácil compreender o porquê. As muitas mudanças de rotina e cotidiano bagunçaram a cabeça de todos nós, aliar isso a uma convivência de praticamente 24h por dia, 7 dias por semana, todos os dias do mês por quase 2 anos definitivamente também bagunçou todas as estruturas das relações.
É claro que casais mundo afora já tinham problemas e questões de relacionamento antes da pandemia estourar, mas lidar com eles sem ter as costumeiras válvulas de escape deixou tudo muito mais desafiador. A irritação e incômodo com as pequenas atitudes do parceire não podiam mais ser diluídas num almoço com amigos, no esporte do fim do dia ou num passeio para espairecer quando a coisa apertava.
Aí a solução que se postulava era o fim da relação. É o que dizem os dados.
Novas Necessidades
Esse crescimento no número de términos mostra que muitas pessoas já não encontravam mais na relação com o parceire a satisfação de suas necessidades pessoais. Além disso, havia ainda a relação dos pombinhos com o ambiente em que estavam. Afinal, passando mais tempo juntos e em casa, as necessidades (novas e antigas) com o ambiente também se tornam mais relevantes.
Uma delas diz respeito à atribuição de tarefas entre os conviventes. Quem detinha mais atribuições dentro da organização doméstica? Quem era menos colaborativo? Como são divididos os cuidados com os filhos? E com os pets? Com as plantas? A limpeza dos espaços? Quem prepararia as refeições? Como manter as coisas arrumadas e em ordem?
Essas sempre foram questões complicadas na convivência e não é exclusiva dos casais – essas questões geram discussões entre pais e filhos, entre amigos que dividem o apartamento, entre irmãos que moram juntos. E a rotina majoritariamente caseira evidenciou os incômodos e fez as pequenas faíscas virarem grandes incêndios.
Além disso, surgiam também novas necessidades pessoais – um tempo sozinho, um pouco mais de silêncio, mudança na organização espacial dos cômodos, mais e diferentes opções de entretenimento. Isso também significava mais e diferentes opções de questões para conciliar com as vontades do outro, ou seja, mais gatilhos para possíveis desentendimentos e irritações.
Qualquer pessoa que já vivenciou um relacionamento mais sério e duradouro sabe que, muitas vezes, os pequenos atritos do dia a dia como esses geram muito mais peso e dificuldade no manejo da relação que as grandes questões da vida.
É inegável também que a temática da pandemia em si também trouxe muitas mudanças nas pessoas, que passaram a refletir mais sobre algumas questões e adotar novas posturas, posicionamentos, opiniões, comportamentos e sentir novas necessidades para si. Com isso tudo acontecendo ao mesmo tempo, manter uma relação saudável e prazerosa, o que sempre foi e sempre será um dos grandes desafios da humanidade, acabou sendo uma missão impossível para muitos, explicando a maior movimentação social rumo à separação de casais.
Maior Acesso
Além de tudo isso, há ainda outra questão em jogo: a menor burocracia. Realizar as novas intenções da sociedade em relação aos relacionamentos amorosos tem sido menos burocrático e dispendioso e isso ajuda a agilizar as mudanças de estado civil.
Que uma das primeiras reações em massa às imposições da pandemia foi o de procurar mais informação e informação com mais qualidade, já sabemos. Os cursos online explodiram e muita gente acabou ganhando novas habilidades e conhecimentos como forma de lidar com a escolha quase compulsória de passar mais tempo dentro de casa.
Isso também colaborou para que as pessoas tivessem mais informação sobre o processo de divórcio. Segundo relatos da advogada de família Marcela Pimentel, houve uma mudança no padrão de manejo dos términos de relacionamento: antes, os casais se separavam, terminando o relacionamento e cortando a convivência, mas não buscavam a regularização da relação imediatamente, chegando a ficar anos separados sem buscar realizar o divórcio. Agora, a situação se inverte e as pesssoas oficializam o término logo após decidirem cortar os laços afetivos.
Isso pode ser tanto em decorrência da maior informação sobre o processo legal, os requisitos para realizá-lo e as vantagens e desvantagens da regularização de sua situação quanto da maior facilidade burocrática. Para divórcios consensuais, em casais que não tenham filhos menores de idade ou incapazes, o processo pode ser feito diretamente no cartório. Além disso, desde maio de 2020, o processo de divórcios pode ser feito exclusivamente por videoconferência, sem atendimento presencial em cartório ou em juízo, demandando muito menos tempo e também menos situações desconfortáveis, em que o ex-casal precisa se reencontrar pessoalmente, dificultando o manejo emocional da situação.
Uma vez descobertas tais facilidades, o desafio da separação pode parecer muito menos traumático e, portanto, mais acessível.
Novos Tempos, Novas Realidades
Não cabe aqui um juízo de valor quanto ao mérito da separação. O fato é que cada sociedade reage às necessidades e oportunidades de seu tempo de uma forma única e aumentar o acesso às possibilidades é sempre um avanço social.
Independentemente de ter passado por um divórcio ou não nos últimos anos, todos nós já percebemos que a dinâmica das relações, afetivas ou não, tem mudado e exigido novos comportamentos e habilidades. E não adianta colocar toda a responsabilidade dessas mudanças na pandemia, pois este é um processo natural de evolução e desenvolvimento das sociedades e seus indivíduos.
Não fiquemos melancólicos pelo que já foi e vamos em busca de nossa felicidade nessa vida, que já nos provou tantas vezes ser tão rara!
O Motel Tarot espera que consigamos lidar cada vez melhor com nossas relações, desejos e necessidades e possamos desfrutar da vida com cada vez mais saúde, alegria e prazer. Esteja você se recuperando de um amor que chegou ao fim ou ingressando em novos relacionamentos, nossas suítes estão sempre de portas abertas para te receber!
Que possamos bem-vindar os novos tempos juntos!
Texto originalmente postado em 21/05/2020 e atualizado em 30/01/2022.
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