Liberdade Sexual?
Sexo. O assunto mais instigante e irresistível que existe. Pelo menos pra nós. E temos certeza que pra você que lê esse texto também.
Um dos motivos pra isso é justamente a multiplicidade de perspectivas que ele tem. Sexo pode ser físico, pode ser mental, pode ser social, pode ser meramente biológico ou pode ser até espiritual. Depende de quem fala. Por aqui, abordamos sexo como saúde, como liberdade e como diversão. Mas há ainda muito mais para abordar, então, esse texto trará uma nova visão que se fortalece na sociedade nos dias atuais – ao mesmo tempo uma crítica e uma releitura do sexo.
Já levantamos um pouco dessa proposição em Por que fazemos sexo?, texto que aponta que a procriação já está longe de ser o motivador para o sexo – se é que algum dia o foi.
Essa tendência fica cada vez mais forte conforme a tecnologia e a ciência avançam. Nas últimas 4 décadas, mais de 8 milhões de pessoas foram geradas a partir de fertilização in vitro e muitos entusiastas apostam que essa prática se consolidará ao ponto de ser a escolha prioritária de qualquer pretendente ao posto de pais em um futuro não tão distante.
E o que sobra ao sexo, então? É para essa pergunta que traremos algumas respostas.
Os Gatilhos do Sexo
Há uma gama quase infinita de razões pelas quais o mundo é apaixonado por sexo, mas 3 delas são as vertentes mais clássicas entre a sociedade até os dias atuais: prazer, carência e finalidade.
Fazemos sexo apenas por prazer? Para alguns sim, apesar do intelecto cada vez mais desenvolvido, somos seres ainda muito instintivos e a simples resposta aos impulsos biológicos e bioquímicos do organismo é ainda um argumento muito satisfatório para a prática sexual. Quantas vezes não morremos de vontade de transar sem que mais nada esteja envolvido?
Há outros grupos que levam o sexo para o lado racional invés do bom e velho instinto. Para esses, é preciso ter um motivo para fazer sexo além da simples vontade. Seja a procriação ou outros argumentos, muitos ainda condenam o sexo puramente por diversão e gozo e acreditam que ele deve ser feito apenas em condições específicas e não por impulsos instintivos. E isso não é novidade, foi assim que o sexo para procriação ganhou força e potencial simbólico por tantos séculos (essa relação de sexo para um determinado fim remonta ao estoicismo na Grécia Antiga e passou a ser realmente questionado apenas com as revoluções sexuais modernas).
Falando em filosofia, Aristóteles trazia o desejo sexual como a busca pelo amor afetivo e nao originado por ele, defendendo que a prática sexual era uma tentativa de se sentir amado pelo outro e não uma consequência do envolvimento afetivo. Outra tendência ainda amplamente percebida nas relações contemporâneas, não é mesmo?
Essas 3 vertentes são as visões mais clássicas para responder à pergunta Por Que Fazemos Sexo? e, por consequência, são também as que vêm sendo mais contestadas desde as quebras de paradigmas causadas pela Revolução Sexual.
Liberdade Sexual
As oscilações sociais sempre buscam o equilíbrio: após o frenesi experienciado pela sexualidade humana decorrente das conquistas sociais quanto à liberdade sexual, testemunhamos agora uma fase oposta. Começa-se a entender que a liberdade não implica necessariamente na prática ilimitada de sexo, mas sim na liberdade em escolher praticá-lo sem nenhum tipo de interferência ou influência externa.
Interferências essas muito ligadas até então a restrições e normas sociais e institucionais, como religião, casamento, legalidade. A mudança tida como ‘liberdade’ se trata apenas da transferência dessa influência para o nível individual e não mais institucional sobre as decisões ligadas à sexualidade.
Ainda assim, essa liberdade é ainda restrita pelas relações sociais, apesar do controle institucional sobre o sexo perder força, a opinião dos círculos sociais frequentados pelas pessoas ainda tem grande valia e a prática deliberada da liberdade sexual é uma clara afronta a esse cerceamento indireto, mas não necessariamente um desejo inerente às pessoas.
Agora, esse cerceamento social está perdendo força e a liberdade individual quanto à sua própria sexualidade fica cada vez mais consolidada na sociedade.
Quando a necessidade de garantir seus direitos sexuais individuais deixa de ser uma questão a ser conquistada, passa-se a buscar compreender os benefícios e prejuízos gerados pelo ato para decidir quando, quanto e como praticá-lo, propiciando o desenvolvimento de uma sexualidade muito mais madura. Essa transição gera uma perspectiva muito mais ampla e diversa, muito além das questões de finalidade, prazer ou afetividade.
É o momento em que o sexo começa a abandonar a representação da liberdade para atingir o status de comunhão, de troca.
Sexo e Espiritualidade
Aí entra em cena o novo cenário social. A era em que vivemos imersos em gadgets, isolamento social (isolamento decorrente da liquidez das relações, não das restrições da pandemia!) e tecnologia que, invés de aproximar, distancia as relações reais.
Esse contexto traz uma forte necessidade de aprofundar laços, estreitar relações e valorizar as trocas humanas. Aliando as duas tendências, chegamos ao momento em que se alia o sexo com a espiritualidade. Falamos de indivíduos que vêem na relação sexual uma forma de conexão, entrega e comunhão entre as pessoas. Uma espécie de troca energética potente e valiosa, muito além de prazer ou paixão.
Essa percepção para além da perspectiva carnal atribui ao sexo profundo simbolismo e carga emocional, fazendo com que ele ganhe importância e seja reservado para momentos e pessoas especiais – uma perspectiva que bate de frente com a visão de liberdade baseada no excesso do pós-revolução sexual.
A liberdade sexual para esse grupo reside justamente na possibilidade de negar o sexo quando ele não entrega o suficiente. Transar sem muitos critérios e/ou condições atreladas seria justamente um sinal da dominação social exercida sobre o indivíduo e não da liberdade que ele goza em relação à sua própria sexualidade.
O Simbolismo do Sexo
Vemos ao longo desse texto as muitas possibilidades que o sexo tem, simbolizando conceitos opostos e tão diversos entre si. Muito mais do que entender quais os objetivos e possibilidades práticas que o sexo tem para o ser humano, a graça está no poder que um ato tão instintivo e natural para todas as espécies existentes pode atingir quando falamos da mentalidade humana.
O apelo e o interesse inatos que o sexo desperta em qualquer pessoa é perfeitamente compreendido quando analisamos todas as múltiplas e infinitas possibilidades simbólicas que ele nos oferece. Podemos defini-lo da forma que melhor nos pareça, mudar de percepção sobre ele ao longo da vida e experimentá-lo de maneiras tão diversas e infinitas.
O sexo é fundamental não só na propagação e sobrevivência da espécie em termos evolucionistas, mas também em termos de evolução psíquica e espiritual. É uma ferramenta poderosa no caminho para entender o que se passa na alma e na mente humana, podendo nos salvar ou nos condenar, a depender das escolhas que façamos.
O Motel Tarot apoia essa busca e espera contribuir para que possamos fazer escolhas cada vez melhores em relação à nossa sexualidade!
Imagem Destacada por Dainis Graveris via Unsplash