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No Fap

Muito provavelmente você já ouviu críticas variadas à pornografia, certo?

“Pornografia faz mal”

“Pornografia vicia”

“Pornografia causa problemas emocionais”

“Pornografia prejudica o cérebro”

 

As variações são muitas. Você sabe se alguma delas é verídica? Pornografia realmente vicia e faz mal à saúde e sexualidade?

 

Pornografia e Sexualidade

Não somos da área médica e, portanto, não estamos no direito de versar sobre os possíveis efeitos do consumo de pornografia, que ainda se mantém no centro de um debate polêmico e com análises variadas. Mas uma coisa é clara: há um crescente grupo de pessoas – tanto homens quanto mulheres – que percebem a pornografia muito distante da realidade, alegando que ela reproduz cenários quase fantasiosos sobre o sexo. Essas críticas valem tanto para os contextos sexuais que são apresentados em produções pornográficas como para a imagem dos corpos e personalidades dos personagens do universo pornográfico.

Essa proposta da indústria ponográfica vai na contramão do que temos testemunhado na sociedade quanto à aceitação dos corpos e suas diferenças. Os conceitos de beleza padrão ou corpo ideal vem sendo rejeitados com cada vez mais força e sendo substituídos por uma completa aceitação sobre si mesmo e sobre os outros, tanto em termos estéticos, de imagem, quanto em questões da psíque, assumindo as dificuldades e desafios emocionais que encarammos ao lidar com a vida e, também, com o sexo e a sexualidade.

Assistir pornografia, geraria, portanto, uma expectativa muito difícil de se cumprir na vida real, configurando uma potencial frustração com o sexo e a sexualidade, fomentando uma crítica muito simples: como uma representação tão irreal sobre o sexo pode estimular uma prática sexual saudável e prazerosa na vida real?

 

Movimento No Fap

Como resposta a essa desaprovação aos moldes em que a indústria pornográfica se sustenta, surge em 2011 o que se transformaria no Movimento No Fap – ou seja, um grupo de pessoas, majoritamente homens heterossexuais, que optam ativamente por não mais se masturbar, ou pelo menos, não usar a pornografia para isso. Defende-se que a prática tem efeitos fisiológicos como melhora do esperma e melhora no crescimento muscular, mas o fator mais interessante para o nosso debate aqui é que abdicar da masturbação e da pornografia proporciona uma nova atitude nesses grupos em relação a seus pares sexuais e uma maior sensação de bem-estar consigo mesmo, fortalecendo sua confiança, motivação e controlando estresse e ansiedade.

Tudo isso por parar de se masturbar? Não exatamente. A masturbação é vista como uma prática saudável e até estimulada por sexólogos e terapeutas sexuais por proporcionar um maior autoconhecimento sobre seu corpo e sua sexualidade. O problema está na masturbação associada à pornografia, justamente pelos fatores citados acima, que podem prejudicar a autoconfiança, uma vez que a produção pornográfica está centrada em corpos muito diferentes dos encontrados na vida real, e também por estabelecer um padrão de interação sexual muito difícil de ser replicado no sexo cotidiano, ocasional.

A consequência atua nas duas pontas: desestimulando a pessoa a buscar ou aceitar transar, por ter receio de não ser tão atraente quanto os padrões aos que está acostumado e por não ter confiança que conseguirá desempenhar a performance que vê nos filmes pornográficos, deixando-o contido e constrangido durante o ato sexual.

Na prática, a masturbação associada à pornografia prejudica por completo a experiência sexual do indivíduo, que diminui a abertura para o sexo, afetando a quantidade e frequência da atividade sexual, e também a qualidade do sexo, uma vez que deixa a pessoa menos à vontade para realizar seus desejos e atuar ativamente nas interações sexuais.

Justamente por evitar a incidência desses dois obstáculos que abdicar da masturbação associada à pornografia tem sido vista como uma escolha saudável e estimulante pelo Movimento No Fap.

 

Pornografia e Compulsão

Ok, mas a pornografia é assim tão danosa? Assistir pornografia de vez em quando pode mesmo ter efeitos tão drásticos na saúde psíquica e comportamento do indivíduo?

Estudos indicam uma relação entre os circuitos de recompensa de um comportamento sexual compulsivo com os sistemas de recompensa do uso de drogas. Ou seja, o problema não está em assistir pornografia, mas sim no alto potencial compulsivo gerado por essa prática, que pode configurar até mesmo um padrão vicioso. A produção pornográfica é carregada de estímulos muito intensos, gerando uma reação cerebral também muito intensa, o que configura um potencial de vício muito alto – a famosa sensação de craving das drogas, quando experimentamos algo tão intenso que imediatamente queremos mais e mais e mais.

Assim, a pornografia por si só não é a vilã da história, assim como a masturbação também não traz nenhum malefício para a sexualidade – pelo contrário. O problema está no excesso, no desequilíbrio no consumo ou mesmo nas escolhas dos conteúdos pornográficos que serão consumidos. Como ainda não temos amplo acesso a produções pornográficas mais “saudáveis”, a opção defendida pelo Movimento No Fap é uma alternativa interessante para aqueles que desejam ter uma sexualidade ativa, saudável e prazerosa.

 

Imagem Destacada retirada de No Fap is No Cap – Soundcloud

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