Remédios – Efeitos Colaterais
No início desse ano a Funcional Health Tech revelou por meio de um estudo que o consumo de antidepressivos no Brasil cresceu 23% entre 2014 e 2018. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de pessoas sofrendo de depressão no mundo aumentou 18% nos últimos dez anos, atingindo mais de 320 milhões de pessoas, 4,4% da população total do planeta.
O Brasil é ainda o país que mais sofre com ansiedade e estresse na América Latina. Por aqui, quase 6% das pessoas sofrem de depressão e 9% lidam diariamente com a ansiedade.
As razões para isso são variadas, mas estão inegavelmente ligadas ao estilo de vida moderno e, sem dúvidas, serão fortalecidas pelo impacto da pandemia de coronavírus no mundo, que implica em adaptações econômicas, sociais e emocionais na vida cotidiana de todos nós.
As formas de tratamento e prevenção de tais doenças são também muito variadas. Para além dos remédios tão popularizados nas últimas décadas, médicos, psiquiatras, psicólogos e especialistas no cérebro humano e bem-estar geral do indivíduo são taxativos em pontuar o benefício que mudanças no estilo de vida e na forma de interpretar e lidar com os acontecimentos cotidianos e traumáticos da vida trazem para os pacientes potenciais para o desenvolvimento de depressão e ansiedade e suas muitas doenças relacionadas.
Essa abordagem não medicamentosa e preventiva vem ganhando espaço nos últimos anos e pode ser ilustrada pelas campanhas Janeiro Branco e Setembro Amarelo, que propõe uma atenção maior à saúde mental como prevenção para doenças psíquicas.
Mas por que o uso de medicamentos para tratar doenças mentais é tão rechaçado?!
Efeitos dos Antidepressivos
Os antidepressivos são remédios que agem no sistema nervoso central e têm a função de normalizar o fluxo de neurotransmissores, substâncias produzidas pelos neurônios responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos de um neurônio a outro, ou seja, neurotransmissores são responsáveis por transmitir as informações do cérebro para o corpo.
Dessa forma, são os neurotransmissores que nos permitem experimentar as sensações – felicidade, bem-estar, alegria, satisfação, etc. Cada neurotransmissor tem sua função específica, como Adrenalina e reações de medo, estresse e perigo, Endorfina e reações de humor, memória e controle da dor, Serotonina e reações no sono, apetite, energia e prazer e Dopamina com o bem-estar e controle remoto do corpo.
Quando a produção desses e outros neurotransmissores está desregulada, surgem os sintomas em nosso cotidiano, que variam de acordo com as proporções de neurotransmissores que correm em nosso corpo. Alguns exemplos são sono irregular, falta de apetite, estresse elevado, apatia, desânimo e por aí vai..
Os antidepressivos atuam na regulagem das taxas dos neurotransmissores e dividem-se em diferentes tipos para atuar de acordo com cada caso, ajudando o corpo a normalizar os estímulos e sensações que experimentamos todos os dias, por isso têm esse efeito tão poderoso de nos dar a chance de voltar a sentir prazer e bem-estar na vida cotidiana.
É claro que um efeito tão poderoso tem seu preço, entre os efeitos colaterais dos antidepressivos estão problemas gastrointestinais, cefaleia, falta de coordenação motora e alterações no sono e no nível de energia taquicardia e disfunção sexual.
Antidepressivos e Sexualidade
Os efeitos colaterais dos antidepressivos são muito variados e têm manifestações diversas de pessoa para pessoa, não é possível prever quais pacientes terão sua sexualidade afetada ou não, mas esse será sempre um risco.
Como vimos, os neurotransmissores são responsáveis por uma ampla gama das sensações humanas e, é claro, entre elas estão as sensações sexuais. Ao corrigir aritificalmente a regulação de alguns neurotransmissores, há a chance de acabar desregulando outros.
Ash Nadkarni, psiquiatra associado do Brigham and Women’s Hospital de Boston, nos ensina que os caminhos do desejo sexual envolvem alguns neurotransmissores, como serotonina, dopamina e norepinefrina, que ativam as sensações de paixão, excitação e desejo sexual. Quando usamos um antidepressivo para aumentar a quantidade de serotonina (e aumentar a sensação de prazer, por exemplo), podemos acabar diminuindo a capacidade de ativação de norepinefrina (e afetar negativamente a sensação de desejo sexual).
Esse é apenas um exemplo ilustrativo para entedermos como a ação dos antidepressivos podem impactar nossa sexualidade, mas há muitos outros sintomas da ação dessa classe de medicamentos relacionados com a nossa saúde sexual, como diminuição da libido, ejaculação retardada, disfunção erétil e incapacidade (ou retardamento) de atingir o orgasmo.
A boa notícia é que tais impactos podem ser momentâneos. Ao cessar o uso da medicação, a regulação de tais neurotransmissores se normaliza e tudo volta a seu lugar. Mas isso dependerá do tipo de medicamento, da progressão da doença, do tempo de uso e muitas outras variáveis. Outra possível situação é que tais efeitos ocorram apenas no período de adaptação do corpo à medicação que, quando estabilizada, cesse seu impacto na vida sexual e demais sintomas.
Além disso, também é válido pontuar que às vezes a diminuição do apelo sexual ocorra devido justamente à doença e não necessariamente ao tratamento, pois pessoas deprimidas e ansiosas tendem a ter sua vida social e seus relacionamentos impactados e isso pode resultar em um menor interesse sexual natural. Nesse caso, o tratamento pode acabar tendo resultados positivos quando concluído com sucesso.
Autocuidado e Sexualidade
Resumidamente, o ponto mais relevante da relação entre doenças mentais, sua medicação adequada e seus efeitos colaterais é que ela se dá individualmente. Cada corpo apresenta seus próprios padrões e respondem aos estímulos a sua própria maneira, assim como sempre bradamos sobre a sexualidade humana.
É muito arriscado fazer uso de medicamentos sem prescrição médica ou solicitar tal prescrição sem uma análise profunda e minuciosa de sua real necessidade e de averiguar se existem alternativas para a solução do problema. O remédio que funciona para nossos familiares e amigos muito provavelmente não funcionará para nós.
É essencial que sintomas de alterações psicológicas recebam a devida atenção do paciente e seja acompanhada por orientação médica.
A imprevisibilidade do tratamento e suas consequências clamam por cuidado. Saúde mental é determinante para nossa qualidade de vida e, muito além dos impactos na nossa vida sexual, os sintomas e os tratamentos de tais doenças são sérios e podem ter consequências graves na nossa vida.
Por isso, a maior dica do Tarot nesse momento é que nos mantenhamos atentos aos sinais que nosso corpo nos dá todos os dias e tentemos incluir em nossa rotina diária, principalmente em tempos de isolamento social forçado, hábitos saudáveis e de autocuidado.
Afinal, só podemos cuidar do outro e ter prazer em nossas relações quando estivermos bem e saudáveis!
Vamos evitar que tenhamos que lidar com os efeitos colaterais dos antidepressivos e possamos curtir as suítes do Motel Tarot e suas surpresas deliciosas com todo o prazer possível?!
Afinal, uma vida bem vivida é sempre vivida com muito prazer!
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